“Fala comigo” e defende o direito a ser menina, mulher, amiga, namorada, mãe

Em Arua, num dos maiores campos de refugiados do Uganda; em Bolama, na Guiné-Bissau; e em Kroo Bay, na Serra Leoa, milhares de raparigas sabem, hoje, o que significam as palavras “boas práticas de saúde sexual e reprodutiva” e o que representam na proteção do seu corpo e dos seus direitos, através das mensagens que a AMI levou até às suas comunidades. De amiga em amiga, de filhas para mães e avós, as palavras de ordem “fala comigo” foram partilhadas em ações de sensibilização, nas escolas e no contacto direto com líderes comunitários. Esclareceram-se mitos sobre antigas tradições e nos centros de saúde foram disponibilizados medicamentos, recursos que já chegaram, diretamente, a mais de 34 mil crianças e jovens, a maioria raparigas.

Começou no Uganda, em março de 2019, a ideia de colocar crianças, jovens e adultos a conversar, lado-a-lado, sobre sexualidade e a lutar pela defesa dos seus direitos sexuais com o apoio da AMI.

O projeto “Talk2Me” (na tradução livre de inglês para português “Fala Comigo”) sentou 25.070 jovens dos 10 aos 24 anos e 24 agentes comunitários, residentes em Arua, dentro do Rhino Settlement, um dos maiores campos de refugiados do país, a falar sobre boas práticas de saúde sexual e reprodutiva. Durante um ano, o projeto foi implementado no campo de refugiados em parceria com a organização ugandesa CEFORD – Community Empowerment for Rural Development, e com o financiamento do Camões I.P., da Microsoft e da Casinhas de Lisboa, com um orçamento total de 127.275,90 euros. Os resultados foram uma porta aberta para o que ainda está a ser feito em Bolama, na Guiné-Bissau e em Kroo Bay, na Serra Leoa.

“Talk to Me” – Uganda. Foto: Pedro Aquino

Jovens assumem-se como fortes agentes da mudança

O uso de preservativo, as doenças sexualmente transmissíveis, a gravidez precoce e a mutilação genital feminina foram, durante muitas gerações, palavras difíceis de abordar na ilha de Bolama, na Guiné-Bissau. Entre 2021 e 2022, o projeto “Papia Ku Mi” (“Fala Comigo”, na tradução livre do crioulo guineense para português) colocou crianças, adolescentes e adultos a conversar sobre liberdade sexual consciente.

Ana, Núria, Sana e Abilai, em tempo aprendizes, agora, mensageiros de um projeto que, garantem, “mudou mentalidades nas gerações mais velhas e jovens, levando a uma maior utilização de métodos contracetivos e à firme condenação do crime da mutilação genital feminina”.

Bons resultados que levaram a AMI a abrir uma segunda fase do projeto “Papia Ku Mi”, de março a julho de 2022, durante a qual a instituição continuou a trabalhar sobre a promoção dos direitos sexuais e reprodutivos dos 5.248 habitantes da ilha, em parceria com a Direção Regional de Educação de Bolama; a Direção Regional de Saúde de Bolama; Rádio Pro-Bolama; e com o financiamento do Camões I.P., investindo 121.927,00 euros.

Ana Djaló, ativista comunitária do “Papia Ku Mi” decidiu que queria entrar no projeto “porque em Bolama havia muita dificuldade em explicar às crianças e jovens o que é a saúde sexual e reprodutiva”. Apesar das dificuldades, Ana identifica bons resultados quando “os jovens começaram a ter conhecimento sobre o que acontece com o seu corpo e a fazer perguntas, livres de vergonha”. E Núria Corealandi, “Amiga Informada” do “Papia Ku Mi” também está atenta a mudanças como “a diminuição das infeções por doenças sexualmente transmissíveis”.

Sana Cassama, técnico local do “Papia Ku Mi” viu entre os líderes comunitários “alguma dificuldade em abordar o tema das práticas nefastas”, no qual está incluída informação sobre as consequências da mutilação genital feminina. Mas, com o avançar do projeto, “foi possível incutir aos pais e líderes comunitários as consequências da excisão feminina e o alerta dos médicos sobre o quanto prejudica a saúde da mulher”.

A divergência de opiniões entre o que os jovens querem e o que os líderes religiosos das comunidades aceitam foi um dos maiores desafios de Abilai Indjai, técnico local do “Papia Ku Mi”, o ativista pensou até “abandonar o projeto”. Hoje, a maioria da população de Bolama pede para o “Papia Ku Mi” continuar na região, “porque o projeto ajudou muitas pessoas com aconselhamento, anticoncecionais e outros medicamentos para combater infeções, aos quais a comunidade não tinha acesso”.

“Papia Ku Mi” – Guiné-Bissau

Mais de 430 quilómetros separam a ilha de Bolama, na Guiné-Bissau, do bairro de Kroo Bay, em Freetown, capital da Serra Leoa. Mas as duas localidades, além de unidas pelas mesmas águas do Atlântico, estão unidas pelo mesmo significado nas palavras. Desde março de 2022, Kroo Bay acolhe um projeto de promoção da saúde sexual e reprodutiva e direitos de adolescentes e jovens, implementado pela We Yone Child Foundation com o apoio da AMI.

A partir de um investimento de 15.785,00 euros, procura-se “melhorar os conhecimentos e capacidades das crianças, raparigas adolescentes e jovens para tomarem decisões informadas sobre a sua saúde sexual e reprodutiva”.

Seguindo a mesma dinâmica implementada na Guiné-Bissau, através do projeto “Papia Ku Mi”, e do Uganda, com o “Talk2Me”, na Serra Leoa, além da participação jovem, também foi dinamizada a participação das famílias e líderes comunitários, sendo possível alcançar 3.740 beneficiários.


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