Na Secundária de Casquilhos alunos e professores fazem da “escola-casa” um lugar onde se mobiliza ajuda para cerca de 50 famílias carenciadas dos concelhos do Barreiro e Moita. O coração do projeto é uma Loja Solidária e a semente da entreajuda foi plantada com o apoio da AMI.
Quando Daniela e Hugo decidiram fazer parte do grupo de alunos e professores que abriu uma Loja Solidária na Escola Secundária de Casquilhos, no Barreiro, queriam simplesmente “ajudar as pessoas”, mesmo que fosse “a partir de pequenas coisas”. Junto dos colegas e professores acabaram por provar que “os jovens podem sair do mundo digital e vir para a rua ajudar”.
Com 17 anos, os alunos daquela que é vista pela comunidade como uma “escola-casa”, começaram em dezembro de 2021 a angariar roupa e alimentos, para ajudar famílias carenciadas. Não imaginavam que, em 2022, a sua Loja Solidária seria uma das ideias vencedoras da 11.ª edição do “Linka-te aos Outros”, promovido pela AMI com o alto patrocínio do Ministério da Educação, através da Direção Geral da Educação.
Concorreram ao financiamento do “Linka-te aos Outros” com o sonho de consolidar o projeto “Casquilhos: Apela, Recolhe e Doa” (CARD), e conseguiram o financiamento necessário para transformar uma sala, vazia e esquecida, na loja idealizada.
Hoje, “a partir da Loja Solidária ajudam 8 a 10 famílias sinalizadas no Agrupamento de Escolas de Casquilhos, além de entregarem alimentos e roupa à associação Gratitude que apoia 40 famílias desfavorecidas nos concelhos do Barreiro e Moita”, conta João Coelho, professor responsável pelo projeto.
Com orgulho estampado no rosto, João Coelho caminha pelos corredores da escola lado-a-lado com Daniela e Hugo, recordando que “o grupo tem dezoito voluntários fixos e muitos planos”. De olhos postos no futuro, acredita que “será possível mitigar situações de pobreza e exclusão social através do voluntariado jovem presente no CARD”. Afinal, “a Escola Secundária dos Casquilhos é velha e até decadente, a precisar de muitas obras, mas, guarda muito potencial humano entre os muros que fizeram parte do Colégio Diocesano D. Manuel de Mello, fundado no Barreiro em 1961 pelo administrador da CUF [Companhia União Fabril]”.
O mesmo orgulho do professor é partilhado por Hugo que abraçou o voluntariado por sentir que “ajudando os outros, mesmo que a pouco e pouco, algo é feito para que o mundo seja um lugar melhor”. Por isso, logo que ouviu falar na Loja Solidária disse “há tanta gente a precisar e eu tenho que ajudar”.
Tal como Hugo, Daniela apaixonou-se pelo voluntariado na Escola Secundária de Casquilhos. Rosto de uma geração movida ao ritmo das novidades digitais, é a prova de que “há sempre tempo e lugar para tudo e para fazer a diferença, desde que se tenha vontade”.
A jovem acha que “nem sempre os jovens estão predispostos a ajudar porque pensam que voluntariado é só entregar comida, mas, vai muito além, podemos ajudar as pessoas através de pequenas coisas”.
Se hoje tudo parece claro, no início Daniela ficou “desconfiada”. Apesar de sempre ter mantido a ideia de um dia ajudar os outros, “tinha receio que as pessoas mentissem sobre os rendimentos e as suas reais necessidades e ficassem com acesso a bens essenciais de que não necessitavam realmente”. A Gratitude acabou por esclarecer todas as suas dúvidas “quando deixou claro que a triagem das famílias apoiadas pelo “Casquilhos: Apela, Recolhe e Doa” seria feita de uma forma muito rigorosa”.
Lembra João Coelho que o envolvimento dos alunos na Loja Solidária foi tão intenso que, “pouco a pouco a mensagem foi passando dentro das salas de aula e em outras escolas do agrupamento, até conquistar professores e encarregados de educação”.
A professora Sónia Gamito chegou ao projeto depois de o colega João Coelho descrever o que os seus alunos estavam a fazer. Em casa surpreendeu-se com o “queremos participar” das filhas. Com dez anos, as gémeas Núria e Áurea aconselham “toda a gente a ajudar um pouco, porque com um pouco de cada um tudo era diferente”.
Isabel Carrilho, também professora da Escola Secundária de Casquilhos, chegou ao CARD pelas mãos dos alunos. “Na sala, durante as aulas, escutava os alunos que falavam sobre a Loja Solidária, muito envolvidos”. Motivada, a professora decidiu experimentar uma vez, já não deixou o grupo e trouxe o filho para a causa.
AMI na escola despertou consciências
“Terá sido a AMI que despertou consciências na Secundária dos Casquilhos para o voluntariado”, pondera o professor João Coelho. Desde 2018 que a AMI leva à escola sessões de apresentação sobre os seus projetos de ação e desenvolvimento humanitário.
“Criado em 2010, no âmbito do Ano Internacional da Juventude assinalado pelas Nações Unidas, o “Linka-te aos Outros” já apoiou 36 ideias desenvolvidas por jovens a frequentar a escola entre o 7º e o 12º ano, com um total de 50 803,68 euros.”
“Momentos dedicados aos alunos do 9.º e 10.º ano que deixavam os jovens sempre muito despertos para o voluntariado, mas com dúvidas sobre como poderiam ajudar”, recorda João Coelho.
Entre conversas, o “Linka-te aos Outros” surgiu sempre como “uma oportunidade para tornar as ideias reais e foi isso que aconteceu em 2022 com a Loja Solidária do CARD”. Em 2023, João Coelho acredita que “será possível tornar a loja mais independente a nível alimentar, através de uma horta comunitária”.
Criado em 2011 no âmbito do Ano Internacional da Juventude assinalado pelas Nações Unidas, o “Linka-te aos Outros” já apoiou 36 ideias desenvolvidas por jovens a frequentar a escola entre o 7º e o 12º ano, com um total de 50.,68 euros.
Em 2022, além de “Casquilhos: Apela, Recolhe e Doa”, também foram selecionados “Amigos infinitos e casas quentinhas”, apresentado pelos alunos da Escola Secundária Sá da Bandeira, em Santarém, para remodelar o Lar de Santo António; e “#EscolaSolidária”, proposto pelos alunos que integram a Associação de Estudantes da Escola Secundária Campos de Melo, na Covilhã, para colmatar necessidades básicas de alimentação, higiene e saúde oral de algumas famílias de alunos da escola.