Vidas renovadas e vidas suspensas – Dia Mundial do Refugiado

Aprender português levou Dmytro à Universidade de Coimbra. Ultrapassar a barreira da língua trará Alina de volta às salas de aula como professora, agora em Portugal. Em novas vidas reconstruídas em Portugal, para lá da guerra na Ucrânia.

Pelo trabalho desenvolvido desde março de 2022 junto da comunidade refugiada pelo Centro Porta Amiga de Coimbra, a AMI é agraciada a 4 de julho com a Medalha de Solidariedade Social – Grau Ouro, da Câmara Municipal de Coimbra.

Desde março de 2022, “a AMI atendeu todos os refugiados da guerra da Ucrânia que bateram à sua porta”, recorda Fernando Nobre, presidente da AMI. Ucranianos e russos que escolheram Portugal para construir novas vidas ou esperar o fim de um conflito que julgavam menos duradouro, encontraram nos centros Porta Amiga, ajuda alimentar, habitacional, legal, educativa e no acesso a cuidados de saúde.

Para o presidente da AMI, “enquanto não houver negociações de paz novas e sérias, as regiões da Ucrânia ficarão sujeitas a conflito e a população continuará a procurar refúgio em regiões onde se possa viver”, seja nos países limítrofes ou em Portugal.

“Coimbra é uma das regiões onde a comunidade ucraniana mais se tem concentrado e, sobretudo, encontrado uma resposta organizada e imediata, para retomar as suas vidas” afirma Paulo Pereira, diretor do Centro Porta Amiga de Coimbra.

Um trabalho pelo qual a Câmara Municipal de Coimbra agracia a AMI, pela ação desenvolvida pelo Centro Porta Amiga de Coimbra, a 4 de julho, com a Medalha de Solidariedade Social – Grau Ouro.

Naquele centro, as aulas de português representam um ponto forte na integração da comunidade ucraniana. “Passou um ano desde que a primeira turma de português abriu no Centro Porta Amiga de Coimbra”, conta Paulo Pereira. Até ao presente, 114 pessoas formaram sete turmas e, através de noções base de português conseguiram integrar-se em Portugal para fixar residência a médio ou longo prazo, vindas da Ucrânia e Rússia. Para a comunidade russa tem sido um pouco diferente, “por receio de preconceito, encerra-se mais”. Este isolamento impede que a real dimensão das suas dificuldades seja medida, assim como não deixa percetível a dimensão do êxodo que está a acontecer na Rússia.

Para Alina Posokhova e Dmytro Kashkin “aprender um português fluente é essencial”. Sonham ingressar no mercado de trabalho com as mesmas profissões que mantinham na Ucrânia, ela como professora primária, ele como advogado.

Há um ano, o casal despertava em Karhkiv para viver o dia do seu casamento. Naquela manhã, os planos caíram por terra quando chegou a notícia da guerra: a Rússia invadira a Ucrânia e em breve os militares chegariam à cidade. Alguns dias após o início da guerra foram “colocados num autocarro pelos familiares, para fugir o mais depressa possível do que viria a seguir”, um possível recrutamento de Dmytro.

Hoje, Dmytro frequenta um mestrado em Direito na Universidade de Coimbra, algo que não seria possível sem as aulas de português. Para Alina a língua de Camões ainda é difícil. Trocar um dia-a-dia totalmente falado em ucraniano por uma vivência quase totalmente em português representa tudo o que deixou para trás e tem de construir de novo, desde a raiz. Enquanto não aprender português ao nível nativo não pode retomar a profissão de professora do 1.º ciclo.

O ensino de português é uma das bandeiras defendidas pela AMI, para a integração dos refugiados ucranianos muito além das fronteiras portuguesas.

Desde o início da guerra, a AMI ajuda famílias ucranianas refugiadas em Oradea, na Roménia, a garantir o acesso a habitação, cuidados de saúde e alimentação. O próximo passo é garantir o acesso ao trabalho e a integração plena das crianças no ensino. Uma barreira que a AMI está a derrubar em parceria com a International Children’s Safety Service, financiando aulas de romeno para 23 adultos e 20 crianças, com um investimento de 8.471,00 euros.

Como resposta à crise humanitária gerada pelo conflito na Ucrânia, Fernando Nobre garante que, além de Portugal, “a AMI vai manter o trabalho com parceiros dentro da Ucrânia, na Moldávia, Hungria e Roménia”, com projetos que promovem o acesso a cuidados de saúde, habitação, trabalho e educação.

A Organização das Nações Unidas estima que desde o início da guerra, a 24 de fevereiro de 2022, a população da Ucrânia passou de 43,3 para 35,6 milhões.


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