Guiné – Bissau: Criação e manutenção da rede de Agentes de Saúde Comunitária (ASC) na educação para a redução da mortalidade materno-infantil em Quinara

A Guiné-Bissau, situada na costa ocidental da África, é um país pequeno de 36, 125 Km quadrados com cerca de 2 milhões de habitantes. Figura entre os países com menor Índice de Desenvolvimento Humano (175º lugar de 187 países e territórios avaliados), em particular, em termos de acesso e utilização de um serviço de saúde de qualidade, com uma elevadíssima taxa de mortalidade materna, neonatal e infanto-juvenil.

Numa corrida contra o relógio para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, o Ministério da Saúde decidiu, em 2009, reativar as intervenções de base comunitária através de 16 Práticas Familiares Essenciais (PFE) com impacto cientificamente demonstrado na redução da morbilidade materna e infantil. A parceria entre a UNICEF Guiné-Bissau e a AMI, iniciada em 2014, para a criação de uma rede de agentes de saúde comunitária (ASC) treinados, equipados e supervisionados na região de Quinara, constituiu um desafio enorme que tinha como objetivo aumentar os conhecimentos da população em matéria de saúde.

A implementação da diretiva do Ministerio no tocante as práticas familiares essenciais foi difícil, devido a situação política prevalecente no país naquela altura, razão pela qual o UNICEF engajou-se em apoiar o Ministerio da saúde na sua efetiva implementação e propus realizar as ações através de parceria com as ONGs nacionais e internacionais. Facto que determinou a colaboração entre aquela agência de ONU e a Assistência Médica Internacional (AMI).

A parceria entre UNICEF e o AMI rubricada em 2014 para a criação de rede de agentes de saúde comunitario (ASC), treinados, equipados e supervisado na região de Quinara foi um desafio enorme que propunha como objetivo aumentar o conhecimentos da população em materia de saúde e pretendia também mobilizá-la para a utilização dos serviços disponíveis através da visita aos agregados familiares para sensibilizar as famílias sobre a problemática da saúde em geral e de maneira particular sobre a higiene (construção e uso correto de latrinas, lavagem das mãos nos momentos cruciais, higiene dos alimentos), seguimento de crianças em idade vacinal para que pudessem ser correta e completamente vacinadas antes do primeiro ano de vida, seguimento e encaminhamento de grávidas para consulta pré-natal e parto institucional, prestação de cuidados essenciais aos recém-nascidos na comunidade, deteção de sinais de perigo nas grávidas, crianças menores de 5 anos e a sua evacuação para uma estrutura sanitária, bem como o tratamento das três doenças causadoras do maior número de morte infantil (paludismo, diarreia e pneumonia).

As avaliações conjuntas realizadas entre as partes (UNICEF e AMI) foram satisfatória, os dados de rotina coletados ao longo do periodo de implementação demostram progresso e o grande trabalho realizado pelos agentes de saúde comunitario na região de Quinara sob a coordenação do AMI.

Na região sanitária de Quinara, a AMI conseguiu manter em função mais de 70% do total dos agentes de saúde comunitária treinados, apesar de estes serem voluntários; cerca de 75% dos agregados familiares recenseados receberam visitas mensais do ASC; mais de 85% de crianças que padeciam de diarreia sem sinais de complicações foram tratadas com sais de re-hidratação oral (SRO) e zinco; mais de 85% das crianças maiores de 2 meses e menores de 5 anos com pneumonia beneficiaram de tratamento com amoxicilina e 60% das crianças beneficiaram de seguimento regular de estatuto nutricional.

Foi significativo o trabalho realizado pela AMI com os ASC da região na referência de casos a estruturas de saúde. Quase 100% das crianças e grávidas detetadas com algum sinal de perigo na comunidade foram evacuadas para a estrutura sanitária, constituindo provavelmente o ponto de inflexão das taxas de mortalidade infantil no país, se considerarmos as dificuldades de transporte e a precariedade das vias rodoviárias. Importa salientar que sem a presença dos ASC na comunidade, muitos dos casos tratados por eles ou evacuados teriam um desenlace fatal.

NOs dados descritas anteriormente foram corroborado a escala nacional pelo inquérito a indicadores multiple (MICS6 – 2019) que demostrou uma redução considerável da taxa de mortalidade infanto – juvenil na ordem de 33% (MICS5 – 89 % e MICS6 – 51%), as taxas de consulta pre-natal e partos assistido ou institucional também registaram melhoria plausível no país tendo passado de 64% para 81% e de 45% para 54% respetivamente entre os dois estudos (MICS5 e MICS6).

Obviamente, não se pode afirmar categoricamente que estes resultados provêm exclusivamente do trabalho dos ASC, mas também não se pode dissociá-lo deles e das ONG como a AMI, que trabalhou arduamente na planificação, coordenação, seguimento, avaliação e orientação dos ASC na tarefa de educação sanitária e na mobilização comunitária para a utilização dos serviços de saúde disponíveis

Dr. Umaro Ba,

Médico Especialista em MGI (Medicina familiar)

Especialista em Saúde da UNICEF


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