Sri Lanka: crescer com a comunidade

O Sri Lanka é um país insular situado no oceano índico, na ponta sul da Índia. Com uma população de aproximadamente 21 milhões de habitantes, esta ilha é um estado independente onde se falam duas línguas oficiais (Cingalês e Tamil) e onde coabitam três religiões (Hinduismo, Islamismo e Catolicismo) com uma rica e predominante tradição budista que remonta a 29aC. No decorrer de uma desgastante e cruel guerra civil que começou em 1983 e só viu o fim 25 anos mais tarde, a história do Sri Lanka foi mais uma vez tragicamente marcada em 2004, desta vez pela natureza.

Em 26 de dezembro de 2004, vários sismos sucessivos, seguidos de um violento tsunami ocorreram no sudeste asiático, devastaram onze países banhados pelo pacífico, causando milhares de mortos, desaparecidos e deslocados.

O governo do Sri Lanka foi o primeiro a decretar o estado de emergência e a apelar à ajuda internacional, registados que foram 40 mil mortos, 5.700 desaparecidos e 41.300 famílias deslocadas (aproxidamente 168 mil pessoas) e alojadas em campos de refugiados.

Dois dias depois, a 28 de dezembro, a AMI chegou a Colombo, capital do Sri Lanka, com o objetivo de realizar uma missão exploratória e de preparar a chegada da equipa expatriada, em resposta ao pedido de ajuda do estado cingalês. Partiram também 8 voluntários num avião fretado pela AMI e foram enviadas 10 toneladas de alimentos, equipamentos e outros bens de ajuda humanitária.

Instalada no sul do país, a equipa da AMI começou a operar em pleno, prestando apoio a campos de deslocados num raio de 30 km de Beruwala, em Sathgama, montando uma operação médico-sanitária de emergência.

Esta intervenção de emergência, inicialmente prevista para 1 a 3 meses, acabaria por durar até janeiro de 2006, não só pela gravidade da situação como pela generosidade dos portugueses que apoiaram a intervenção da AMI.

Esta solidariedade levou a que, paralelamente à missão de emergência fossem estabelecidos contactos para preparar projetos a médio e longo prazo de reabilitação de estruturas médicas e sociais, tendo permitido a ajuda da AMI manter-se por mais 10 anos através de projetos em parceria com organizações locais, nos quais foram aplicados os cerca de 2,5 milhões de euros angariados através da campanha de emergência.

Para o efeito, a AMI estabeleceu parcerias com várias organizações internacionais como a Planet Finance e a Asian Human Rights Commission e locais em diferentes zonas do País: Don Bosco Boys Home, St. Vincent´s e St. Francis Boys Home no Sul, a Sri Lanka Portuguese Burgher Foundation (no apoio à Comunidade “Burgher”) na costa Este da Ilha e o Centre for Society and Religion na capital, Colombo.

Dos projetos desenvolvidos pela AMI no Sri Lanka, destacam-se a parceria com o orfanato St. Vincent´s Home que acolhia cerca de 200 crianças; a expansão do orfanato D. Bosco Boys Home, aumentando assim a capacidade de acolhimento da estrutura de 96 para 160 crianças; a parceria com o Centre for Society and Religion, cuja missão consiste em promover o diálogo inter-religioso e intercultural num país severamente marcado pela diversidade e pelos conflitos religiosos, é uma tarefa tão fundamental como hercúlea; e a criação da Sri Lanka Portuguese Burgher Foundation (SLPBF), em 2005, cujo foco seria o apoio social à comunidade Burgher e a promoção das relações culturais entre Portugal e o Sri Lanka. Esta parceria foi formalizada em dezembro de 2005.

A comunidade Burgher é composta por descendentes de portugueses e holandeses das ex-colónias que chegaram ao antigo Ceilão nos séculos XVI e XVII. Em Batticaloa, predomina a herança cultural portuguesa, ainda vísivel no folclore da comunidade e no crioulo português (papiamento), que os mais velhos ainda conhecem e tentam transmitir aos mais novos, bem como nos nomes de origem portuguesa, como Dias, Silva e Ragel, entre outros. O presidente da AMI, Fernando Nobre, conta que quando se encontrou pela primeira vez com um dos representantes da comunidade burgher em Batticaloa, o Padre Francis Dias, este perguntou, emocionado, porque é que os portugueses tinham abandonado a comunidade burgher luso-descendente no Sri Lanka. Esta comunidade encontrava-se extremamente vulnerável economicamente, sobretudo porque havia sido muito afetada pelo tsunami, não estando a receber à data qualquer ajuda governamental ou de outras organizações. A AMI considerou que não poderia ficar indiferente, não só pela vulnerabilidade da população, mas também pela importância de estreitar os laços culturais entre os dois países.

Atualmente, está a decorrer, até setembro de 2020, um projeto na área educativa, em parceria com a Burgher Cultural Union (BCU)1, que visa o apoio a famílias em situação de carência económica, através da capacitação de jovens para a integração no mercado laboral, reforçando o nível de escolaridade da comunidade.

Tendo em conta o cenário atual em que o mundo se encontra, em estado de prevenção e combate face à propagação do novo coronavírus, os fundos canalizados para este projeto estão a ser redirecionados no sentido de apoiar estas famílias com bens alimentares e essenciais para que possam permanecer na segurança das suas casas, sem se verem obrigadas a procurar fontes de rendimento para suprir as suas necessidades.

Pela mesma razão, a SLPBF pediu um apoio adicional à AMI para poder manter os profissionais afetos à instituição, uma vez que se viram obrigados a fechar temporariamente.

Decisões governamentais tomadas como o recolher obrigatório em determinadas regiões do país, controlo de preços de bens de primeira necessidade e o encerramento de negócios locais estão a causar fortes impactos na vida quotidiana da sociedade civil no Sri Lanka.

Fotografia: Alfredo Cunha

 


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