Foto: Alfredo Cunha
No Dia Mundial da Alimentação, o Departamento Internacional da AMI alerta para as dificuldades no acesso à alimentação em três países onde a instituição atua – Guiné-Bissau, Colômbia e Bangladesh – através do olhar dos Parceiros Locais, destacando os principais desafios e tradições gastronómicas de cada um destes países.
De acordo com o Comité de Direitos Económicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas, a principal causa da fome e da malnutrição é a indisponibilidade de bens alimentares, geralmente devido à pobreza.
Bangladesh
No Bangladesh, uma significativa parte da população tem ainda um acesso limitado e desproporcional aos alimentos, apesar do enorme sucesso na produção dos mesmos, já que 60% da população que vive em zonas rurais está direta ou indiretamente envolvida na agricultura. Os pequenos agricultores representam 44.6% das comunidades agrícolas, sendo que têm acesso sobretudo a cereais, mas não têm acesso a outros alimentos essenciais. Apesar do país ter conseguido reduzir a sua taxa de pobreza e as situações de pobreza extrema, atualmente 1/3 da sua população ainda vive abaixo do limiar da pobreza, com acesso limitado aos alimentos e em situação de insegurança alimentar.
O aumento dos preços e a instabilidade do mercado (levando os agricultores a gastar mais de metade dos seus rendimentos na compra de alimentos básicos), a escassez sazonal de alimentos e a deficiência no tipo de alimentação e na utilização dos alimentos (com uma ingestão de nutrientes muito abaixo do adequado) são outros componentes que caracterizam as dificuldades de acesso à alimentação no Bangladesh.
Porém, este pequeno país (com uma área de 143.993km2) é rico em vegetais, em peixe e em frutas e apresenta uma gastronomia preenchida de especiarias, aromas e cores. Os pratos mais comuns para a população do Bangladesh são o arroz, o caril de peixe (feito com Hilsa fish) e as lentilhas. O “Sheek Kabab” também é muito comum. É um prato muito típico do sul da Ásia e é feito com uma carne picada que é normalmente cordeiro ou frango.
Os pratos tradicionais incluem o Morog Polao (preparado com frango, arroz e várias especiarias); Bhuna Khichuri (específico da época das chuvas, feito com arroz, lentilhas e algumas especiarias); Kachi Birayni (carne de ovelha, batatas e especiarias).
O arroz é um elemento central da alimentação do Bangladesh, sendo habitualmente frito, cozinhado com ovos, vegetais, marisco ou carne. Também nas sobremesas, o arroz ganha destaque, sendo um ingrediente para a confeção do “Fuchka Misti Doi (preparado com arroz e leite de vaca) ou do Payesh ( leite, arroz, açúcar, coco, nozes e cenoura). O Falooda é um gelado feito com pérolas de tapioca, creme de coco, manga, leite e aletria.
Guiné-Bissau
A maioria da população da Guiné-Bissau é camponesa e a sua principal atividade é a agricultura, a partir da qual se consegue garantir alimentos para as famílias. Apesar da riqueza do solo, nos últimos anos o caju passou a ser o principal produto agrícola, gerando pouca diversificação no cultivo. Por outro lado, o sector agrícola enfrenta vários desafios como a falta de materiais agrícolas de qualidade e a falta de conhecimentos técnicos de formação no domínio agrário.
A Guiné-Bissau é um país de clima tropical húmido, com chuvas e um solo que tem condições para um bom cultivo, ainda que a população tenha grandes dificuldades na obtenção de alimentos. Uma das maiores dificuldades prende-se com a falta de condições para conservar tudo o que as famílias produzem durante a época das chuvas; a falta de emprego e o facto das famílias guineenses serem numerosas. Normalmente, toda a família depende de uma só pessoa com emprego. Por todo o território nacional, é frequente ver mulheres e crianças a carregar bandejas em busca de pão e no apoio ao sustento das famílias. As mulheres guineenses assumiram um papel fundamental na sociedade através das suas pequenas atividades hortícolas e comerciais.
Mesmo com tantas dificuldades em termos de sustento, a Guiné Bissau é muito rica gastronomicamente, sobretudo devido à sua diversidade étnica e cultural, com mais de vinte e cinco grupos étnicos, cada um deles com a sua gastronomia cultural.
A riqueza da gastronomia da Guiné-Bissau resulta da utilização dos produtos de “tchon”(da terra) desde peixes, mariscos, amendoim, chabéu, o coco, a batata doce, o inhame, a manfafa, entre outros. Na Guiné-Bissau está ainda disponível uma variedade de frutas como a papaia, a manga, a pinha, a banana, o abacaxi, o fole e o cajú.
Nos últimos anos, os países vizinhos influenciaram também a gastronomia guineense, através da importação de vários alimentos provenientes sobretudo do Senegal (como por exemplo, alguns legumes) e da Guiné-Conacri (como a manga, o abacaxi, a laranja e a banana).
O mais conhecido dos pratos tradicionais guineenses é o caldo de mancarra, feito com o amendoim e ao qual se pode juntar carne, peixe, marisco ou galinha da terra. Também famoso é o caldo de chabéu, que é cozinhado com o óleo de palma, extraído do chabéu, e ao qual se pode juntar peixe, marisco, galinha da terra ou outra carne.
Existe ainda uma vasta gama de sumos naturais, como o sumo de cabaceira (feito de fruto de embondeiro), ondjo (hibisco), veludo (fruto avermelhado), foli, mandipli, papaia, tamarindo, farroba, laranja ou limão.
Colômbia
Na Colômbia, a realidade de uma pobreza extrema dificulta o acesso aos alimentos ou, pelo menos, a uma alimentação de qualidade.
Em 2018, o acesso à alimentação era muito díficil para 19.6% da população colombiana que vivia em pobreza extrema.
Embora haja alimentos disponíveis na oferta de mercado, a maior limitação para uma parte dos colombianos é o seu poder de aquisição dos mesmos. Por outro lado, a Colômbia apresenta uma terra fértil, onde é possível produzir uma infinidade de produtos alimentares. Da diversidade das suas paisagens, do seu clima, das suas etnias e das suas manifestações culturais, resulta uma gastronomia rica, marcada pelo requinte com que cada cozinheiro(a) prepara os seus pratos. É um país diversificado em sabores, cores, cheiros, texturas, mas sobretudo em sabores e temperos. Cada prato tem o seu toque, a sua magia, e cada preparação é única.
Há alguns alimentos típicos da Colômbia, como as “arepas” (que são uma espécie de pão / bolo de milho, normalmente servidas ao pequeno almoço ou ao lanche, e que podem ser recheadas com queijo, abacate, ovos, ou outros); os “sancochos” (uma sopa de caldo grosso com várias carnes, batata e milho); as tamales (são feitos de massa à base de milho, podem ter formas diferentes; e podem levar carnes, queijos, frutas, legumes, etc.), entre outros.
No entanto, os pratos tradicionais variam em função da região do país. Por exemplo, na Região Caribe e região Insular, no norte do país, destaca-se a “Bandeja Típica de Peixe”, que inclui o peixe “mojarra” frito, “patacones” (banana verde esmagada e frita) e arroz de coco.
Já na Região do pacífico, come-se o “Bocachico em sumo de coco”, que é um peixe cozinhado em leite de coco, acompanhado com vegetais e arepa.
Na Região de Orinoco, come-se a “Ternera a la Llanera” mais conhecida como “mamona mona” que implica uma vitela com quatro tipos de cortes, condimentada com “chicha de auhyama” e cerveja.
Na região amazónica, serve-se o Piracuco, que é um peixe panado com farinha de tapioca.