“Todas as bolsas são preciosas quando a universidade é a chave mestra”

Com inscrições abertas até 31 de outubro para a sua 9.ª edição, o Fundo Universitário AMI continua a contribuir para que dezenas de estudantes frequentem licenciaturas e mestrados. Noemi Oliveira e Catarina Gomes provam que, em qualquer momento da vida, é possível ingressar na universidade. Basta ter o apoio necessário.

A biologia e a psicologia são paixões das quais não desistiram até as transformarem em profissão. Acompanhada pelo marido, também estudante, e de um filho, Noemi Oliveira veio da Ilha do Fogo, em Cabo Verde, para realizar a Licenciatura em Biologia da Universidade de Évora. Também com destino à Universidade de Évora, Mariana Gomes partiu do Funchal para entrar na Licenciatura em Psicologia. Na bagagem trazia apenas o suficiente para fazer face às despesas dos primeiros meses.

Depois de anos de espera até ingressar na licenciatura, Noemi Oliveira afirma que, “desde a Ação Social ao Fundo Universitário AMI, todas as bolsas são preciosas quando a universidade é a chave mestra para abrir as portas que surgirão pela frente”.

Em 2020, com 24 anos, Noemi Oliveira pensava que o sonho de estudar biologia seria sempre apenas isso, um sonho. “As pessoas diziam que a universidade era para pessoas mais jovens, solteiras e sem filhos”. Mas, “precisamente por ter um filho”, Noemi não abria mão de um dia fazer uma licenciatura.

Adão Lopes, irmão mais velho de Noemi e Raquiel Lopes, a irmã mais nova, estavam a meio dos seus percursos académicos na área da Engenharia Informática, na Universidade de Évora, e não permitiram que Noemi guardasse o seu sonho num lugar inacessível. Apoiaram a irmã até conseguir entrar na Universidade de Évora, que viria a tornar-se uma escola-casa para toda a família Lopes.

“Os primeiros meses foram difíceis. Ainda só tínhamos a bolsa da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] no valor de 600,00 euros, mas, as propinas tinham um valor anual de 1.250,00 euros e preocupava-nos como iríamos conseguir pagar tudo”, recorda Noemi. Além desta despesa tinham uma renda de casa no valor de 500,00 porque, sendo um casal com um filho, não podiam ficar na residência académica.

Ao mesmo tempo, o marido de Noemi, já licenciado em Línguas, Literaturas e Culturas (Estudos Ingleses) pela Universidade de Cabo Verde, iniciava, também na Universidade de Évora, um processo de equivalência para lecionar em Portugal. Um plano que teve de abandonar, durante algum tempo, para trabalhar noutra área e “suprir as despesas da família”.

Começavam a pensar em regressar a Cabo Verde, quando o Fundo Universitário AMI surgiu como solução. O irmão e a irmã de Noemi tinham beneficiado deste recurso e a jovem decidiu candidatar-se.

Depois da licenciatura Noemi Oliveira fez uma pós-graduação em Ambiente e Sustentabilidade. O mestrado é o próximo objetivo académico. Fotografia: Direitos Reservados

Quatro anos depois, quando olha para a grande aventura em que toda a família embarcou, com licenciaturas, mestrados e doutoramentos entrelaçados, Noemi pensa que “quando andava a trilha8subtr isso tudo, parecia que nunca mais acabava, mas, valeu a pena e nunca devemos desistir. Por mais difícil que seja o percurso, um dia vencemos”. Em 2022, começou a dar aulas de Biologia em Arraiolos e espera colocação para o ano letivo 2023/2024. O marido dá aulas de Inglês em Castro Verde, o irmão mais velho é professor de Engenharia Informática em Évora e Raquiel, que estudou a mesma área, é programadora numa empresa espanhola. Em breve a família terá uma historiadora. Outra irmã de Noemi, com 32 anos, foi colocada na Licenciatura em História e Arqueologia da Universidade de Évora, porque “nunca é tarde para concretizar um sonho”.

“A bolsa da AMI permitiu-me ser investigadora”

Mariana Gomes também escolheu a Universidade de Évora para iniciar o seu percurso académico. Partiu do Funchal em 2016, para frequentar a Licenciatura em Psicologia, com o dinheiro contado para as despesas dos primeiros meses, antes da bolsa de estudo da Ação Social ser atribuída. “Uma poupança conseguida a fazer e vender tartes de nata”, conta.

A psicologia, enquanto ferramenta para compreender e ajudar os outros, sempre despertou o interesse de Mariana Gomes que pensava estudar a área “quando surgisse a oportunidade”. Os anos de licenciatura foram difíceis, com bolsa de estudo para propinas, mas, sem apoio extra para despesas com habitação, alimentação ou materiais de estudo. Quando, em 2019, decidiu prosseguir o plano de estudos para o Mestrado em Psicologia Social e das Organizações no Instituto Universitário de Lisboa – ISCTE questionou-se sobre “como conseguiria suportar despesas ainda mais elevadas em Lisboa”.

Durante a elaboração de um projeto para o mestrado, Mariana Gomes ficou a conhecer o trabalho desenvolvido pela AMI na área da saúde mental e, explorando projetos que a AMI desenvolve na área da educação, ficou a conhecer o Fundo Universitário.

A frequentar o doutoramento, Catarina Gomes vai integrar uma investigação sobre a população imigrante fixada no Litoral Alentejano. Fotografia: Direitos Reservados

A bolsa do Fundo Universitário permitiu a Mariana Gomes explorar o que assume como “uma paixão”: fazer investigação sobre psicologia e educação.

Atualmente, com 27 anos, está a frequentar o doutoramento na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, na área da educação. Um percurso, mais do que académico, profissional. Para Mariana, “a descoberta vocacional como investigadora só foi possível porque o Fundo Universitário AMI permitiu ter todo o valor necessário para propinas e assim ficar com tempo os primeiros passos como investigadora, sem a preocupação de manter um trabalho em part-time”. A jovem investigadora defende mesmo que “deveriam ser desenvolvidas mais bolsas, por entidades públicas ou privadas, para apoiar estudantes no acesso à habitação, alimentação e cuidados de saúde”.


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