Aumentam de forma crítica os pedidos de bens essenciais e os casos de pessoas em situação sem-abrigo

Os novos pedidos de apoio continuam a aumentar nos equipamentos sociais da AMI. Alimentação e roupa são os bens essenciais mais procurados. O aumento de casos de pessoas em situação sem-abrigo é exponencial desde 2022.

No primeiro semestre de 2023 o número de novos beneficiários da AMI aumentou 33%, reflexo da “vulnerabilidade vivenciada pelas famílias que tem vindo a ser agravada pelo aumento das despesas e pelo aumento dos preços dos produtos alimentares, sendo cada vez mais difícil dar resposta a estas necessidades de forma autónoma”, afirma Ana Ramalho, diretora do Departamento de Ação Social da AMI.

Foram 8.661 os atendimentos, acompanhamentos e encaminhamentos realizados no primeiro semestre de 2023 a 6.772 pessoas, das quais 1.154 procuraram o apoio da AMI pela primeira vez, o que representa o aumento de 33% em relação ao período homólogo de 2022.

O serviço de distribuição de géneros alimentares apoiou 2.135 pessoas, através da entrega de 2.993 cabazes. O serviço de refeitório, sendo um dos mais utilizados no primeiro semestre deste ano, apoiou 872 pessoas, servindo um total de 83.731 refeições, o que representa um aumento de 5% em relação às refeições distribuídas no período homólogo do ano passado.

Tendo em conta o presente cenário social, Ana Ramalho destaca que “as necessidades de disponibilizar apoio alimentar são cada vez maiores e mais prementes, assumindo aqui a AMI um papel determinante”. No entanto, mesmo com uma Campanha de Natal a decorrer, tem sido cada vez mais difícil angariar apoios, quer sejam da sociedade civil quer sejam das empresas, pois também estas enfrentam grandes desafios. “Ao nível dos cabazes de Natal, a maior dificuldade tem sido gerir a disponibilidade de alimentos e o elevado preço que está a ser praticado no azeite e bacalhau, base da ceia de Natal de grande parte das famílias”, explica a assistente social.

Além do apoio alimentar, garantir vestuário também tem sido um dos grandes desafios das famílias que recorrem à AMI. No primeiro semestre de 2023 o serviço de roupeiro foi requerido por 1.770 pessoas, representando um total de 867 agregados familiares.

A maior parte das pessoas que procuram apoio social junto da AMI encontra-se em idade ativa, entre os 16 e os 65 anos (70%), seguindo-se o grupo de menores de 16 anos (20%) e dos maiores de 66 anos (7%).

No que diz respeito ao emprego, 44% das pessoas com mais de 16 anos não exerce qualquer atividade profissional e 43% não tem formação profissional. Os seus recursos económicos provêm sobretudo de apoios sociais como o Rendimento Social de Inserção (17%); as pensões e reformas (10%) e os subsídios (6%). De salientar que 10% desta população tem rendimentos de trabalho, mas os mesmos revelam-se precários e insuficientes para fazer face às suas despesas ou do seu agregado familiar.

Pessoas em situação sem-abrigo: um semestre difícil

Só no primeiro semestre de 2023, entre os Centros Porta Amiga e a atuação das Equipas de Rua, a AMI já acompanhou 1.020 pessoas em situação sem-abrigo, número que representa um aumento de 8%, face ao período homólogo de 2022. Dentro do total registado até ao momento, 278 representam novos casos o que significa um aumento de 57% face ao primeiro semestre de 2022.

No total e em termos comparativos em relação a 2022, a AMI acompanhou 1.285 casos de pessoas em situação sem-abrigo, o que, por sua vez, já representava um aumento de 18% face a 2021 (mais 403 novos casos).

De facto, entre 2018 e 2021 registou-se uma tendência decrescente na população em situação sem-abrigo acompanhada pela AMI.

Agora, Sérgio Condez, sociólogo que integra a Equipa de Rua da AMI em Lisboa, afirma que 2023 representa “um período particularmente difícil”. Uma tendência também confirmada pela assistente social Flávia Ricardo que integra a mesma equipa e afirma que “os novos casos representam até pessoas que, em algum momento das suas vidas, tiveram estabilidade financeira para manter as suas casas e alimentação, mas, devido à inflação e perda de trabalho, que mantinham com vínculo de precariedade, voltaram à rua”. Flávia Ricardo destaca ainda “um significativo número de imigrantes do Nepal, Paquistão, Marrocos e Argélia a viver nas ruas”.

No primeiro semestre de 2023, as Equipas de Rua da AMI já acompanharam 249 pessoas em situação sem-abrigo, o que representa um aumento de 24% em relação ao primeiro semestre de 2022. Destas pessoas, 116 foram apoiadas pela primeira vez, representando um aumento de 63% em relação ao período homólogo.


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