Síria – Entrevista a Fuad Almosa

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Iniciado em fevereiro deste ano, o projeto que a AMI apoia na Síria, em parceria com a Syria Relief & Development (SRD) tem uma duração de 12 meses e um orçamento de 45.113€ (dos quais a AMI financia 30.000€) e tem 4110 beneficiários diretos e cerca de 35 mil
indiretos.

Fale-nos acerca da vossa ONG. Como começou e quais os seus principais objetivos?

Fundada em novembro de 2011, a Syria Relief Development (SRD) foi criada para fornecer ajuda humanitária a civis sírios durante os conflitos no país. Os fundadores da SRD quiseram aliviar a crescente crise humanitária e o sofrimento do povo na sua própria pátria. As suas memórias de felicidade e amor, no que já foi um dos países mais históricos e belos do mundo, guiaram os seus corações para o desenvolvimento de uma organização que refletisse a beleza e a esperança da terra e do povo da Síria.

Quando começou a trabalhar na Síria e em que regiões?

Em 2011 e no norte da Síria. Na província de Alepo em Azaz — Aghtarin — Afrin — subdistritos de Jerablus, na província de Idleb, nos subdistritos de Kafrnbol — Telmerdikh — Ariha — Ehsem — Kafrtall — Azmarin — Marat Hurmeh. 

Em que medida o envolvimento da AMI como parceiro e doador do vosso projeto ajuda a melhorar o vosso trabalho?

A relação entre a AMI e a SRD foi construída com base na compreensão abrangente das necessidades humanitárias na área e de como abordar essas necessidades com uma resposta adequada. Começando pelo desenvolvimento e desenho do projeto e até ao período da implementação, foi estabelecida uma comunicação regular com a equipa da AMI numa procura de apoio técnico e para discutir as atualizações sobre acontecimentos nas áreas-alvo, especialmente aquelas relacionadas com escaladas em áreas vizinhas que causaram o influxo de deslocados internos. A SRD e a AMI também discutiram o modo de comunicação das atividades do projeto e do seu progresso. O pessoal do SRD beneficiou muito da capacidade e do conhecimento da equipa da AMI, especialmente da maneira como se desenhou o Planeamento de Projetos por Objetivos e de como comunicar atividades usando formatos de relatório muito úteis. Começámos a usar alguns desses formatos noutros projetos, pois são muito aplicáveis e abrangentes. 

Que resultados alcançaram nestes últimos meses? 

O resultado: melhorar o acesso a serviços de saúde mental e apoio psicossocial (MHPSS) de qualidade e eficazes. 

Qual a importância deste tipo de apoio num país onde as pessoas vivem num contexto quotidiano de violência e instabilidade?

Em áreas-alvo onde trabalhamos, o estigma e as restrições sociais tornaram-se um obstáculo que impede que os pacientes de saúde mental cheguem aos serviços disponíveis. Através do apoio da AMI, chegámos à comunidade com sessões de sensibilização para reduzir
o estigma e incentivar as pessoas a acederem aos serviços disponíveis. 

Existem mais organizações a fazer este tipo de trabalho? 

Nas nossas áreas-alvo, não. 

Como é que a população vê a situação em geral e qual a sua opinião sobre o trabalho das organizações de ajuda humanitária?

As pessoas nas áreas-alvo, especialmente os deslocados internos e os mais afetados pela crise, têm uma necessidade vital de apoio humanitário por parte das ONG. Depois da guerra, as pessoas já não podem pagar serviços médicos ou outras necessidades básicas, o que reforça a importância de lhes fornecer apoio humanitário para os ajudar a recuperar a resiliência e o bem-estar.

Qual a importância do envolvimento de organizações não-governamentais na Síria? 

É muito importante. Sem as ONG, muitas pessoas podem não conseguir sobreviver com as suas famílias. 

Existem restrições ao vosso trabalho? 

Não há restrições porque prestamos serviços humanitários de maneira neutra após a coordenação com as autoridades civis locais. Mas a coordenação precisa de muito esforço, pois algumas áreas costumam sofrer de instabilidade, o que torna a comunicação mais complicada. 

Já presenciaram algum desenvolvimento no conflito? De que modo? Podemos dizer que começamos a ver um resultado, ou o conflito sírio tornou-se um problema sem fim à vista?

O conflito na Síria está a tornar-se menos destrutivo com o tempo, mas as perdas são grandes até agora. 7 anos de morte, deslocamentos e traumas podem ter um efeito a longo prazo sobre o bem-estar psicológico das pessoas, o que ameaça os seus mecanismos de defesa, mesmo depois de serem expostas a situações relativamente normais. A guerra da Síria está a chegar ao fim, mas a reabilitação das pessoas afetadas precisa do apoio da comunidade internacional e de pessoas empenhadas que acreditem que os seres humanos são uma única família e que salvar vidas de familiares afetados é uma prioridade que precisa de ser abordada através do trabalho colaborativo entre diferentes atores humanitários.

O que podem fazer aqueles que estão preocupados com o povo da Síria e que querem ajudar?

O planeamento estratégico para responder às necessidades humanitárias garante resultados sustentáveis para aliviar o sofrimento das pessoas. Projetos que capacitem a comunidade e fortaleçam a sua adaptação a diferentes agentes de stress podem ser uma das soluções
mais eficazes a longo prazo. O aumento de capacidade da equipa local é um bom investimento que impede a migração para outros países. Ao apoiar estes projetos, como a parceria AMI-SRD, espera-se que os efeitos sustentáveis na comunidade se tornem realidade, porque o projeto se concentra no aumento da sensibilização das pessoas e na sua ligação aos recursos da comunidade. As pessoas exteriores à Síria também se podem voluntariar para compartilhar os seus conhecimentos e para ajudar as mulheres e crianças sírias e aquelas pessoas que correm maior risco de não recuperar das complicações da guerra.