Há silêncios impossíveis.
Um coração que não bate. Um tórax que não expande. Um pulso que não se palpa. Um corpo sem vida.
Silêncio.
Comprime, ventila. Silêncio.
“Volta, vamos”. Silêncio.
Queres chorar mas não dá tempo. Silêncio.
Comprime, ventila. Silêncio.
Continua. Não pares.
Silêncio. Silêncio. Silêncio.
Aceita o silêncio. Limpa. Cobre com uma capulana.
Silêncio.
Só silêncio.
Aos que morrem em silêncio.
Aos que morrem sem que o mundo saiba.
Aqui morre-se por coisas que ninguém devia morrer. Muito. Todos os dias. E enquanto metade do mundo ignorar a outra metade que morre, eles vão continuar a morrer. Silêncio.
Ao D. de 14 anos, que hoje morreu por cólera. Não és silêncio.
Ana Paula Cruz,
Médica voluntária da AMI em Moçambique
9 de abril de 2019