Moçambique: balanço da intervenção e projetos futuros

O ciclone Idai, que atingiu a sua intensidade máxima na noite de 14 para 15 de março, foi o ciclone tropical mais forte a atingir Moçambique desde Jokwe em 2008. Com ele, vieram fortes ventos e inundações, que causaram a morte de mais de 700 pessoas e centenas de milhares de deslocados. Segundo dados oficiais, mais de 1.85 milhões de pessoas precisaram de ajuda internacional e 73.000 deslocados foram obrigados a viver em 88 campos de acolhimento. Mais de 305.700 crianças em idade escolar foram também afetadas por esta crise.

A AMI foi uma das 9 Equipas Médicas de Emergência oficialmente reconhecidas pelo Ministério da Saúde de Moçambique a intervir na Beira. No total, composta de 26 elementos, 11 deles expatriados (4 médicos, 2 enfermeiros, 1 farmacêutica, 2 gestoras de projeto e 2 logísticos) e 15 contratados localmente (2 médicos, 4 enfermeiros, 4 agentes de limpeza, 2 guardas e 3 motoristas/logísticos), esta equipa teve também o apoio de voluntários benévolos da First things First, da Comunidade portuguesa de Maputo e Beira, dos Bombeiros Voluntários do Beato e dos Bombeiros voluntários de Aveiro.

A primeira equipa de emergência da AMI partiu de Lisboa a 21 de março. Esta equipa reconheceu e avaliou as necessidades de intervenção no terreno, tendo começado por adquirir localmente várias toneladas de medicamentos e de bens de primeira necessidade, que foram distribuídos a famílias de 13 comunidades de Munhava. Três dias depois, partiu de Lisboa a equipa médica da AMI que se instalou, a pedido do Ministério da Saúde moçambicano, no Centro de Saúde de Manga Nhaconjo, localizado na Beira, e que serve uma população de cerca de 50 mil pessoas.

No dia 27, iniciou-se a montagem do Hospital de Campanha junto ao Centro de Saúde, o primeiro dos 4 hospitais de campanha a operar na Beira e, três dias depois, este equipamento ficou totalmente operacional e a funcionar 24h por dia, exclusivamente dedicado ao tratamento de doentes com diarreias agudas aquosas e diagnóstico de casos de cólera.

Neste âmbito, a equipa médica interveio a 3 níveis: atendimento de doentes com diarreia; prevenção, através de ações de sensibilização nas comunidades, sobre questões de higiene e tratamento de água; controlo de transmissão, através do isolamento do Hospital de Campanha, para evitar o contágio com os restantes pacientes da estrutura de saúde.

Entre o período de 30 de março até ao dia 23 de maio, a equipa da AMI realizou 2328 consultas, 1250 das quais do sexo feminino (54%) e a 1078 do sexo masculino (46%).

No fim da missão de emergência, a AMI doou o Hospital de Campanha, juntamente com os medicamentos, materiais médicos e outros materiais não utilizados ao Centro de Saúde da Manga Nhaconjo. Tendo em consideração que o número de casos compatíveis com cólera, reduziu drasticamente, foi definido que as tendas do Hospital de Campanha iriam, após a missão de emergência, dar apoio aos serviços que precisam de mais espaço -TARV, psicologia e pediatria. Deste modo, o Hospital de Campanha foi desinfetado e organizado de modo a dar apoio então aos serviços definidos.

De forma a garantir que após a missão de emergência, as comunidades da Manga Nhaconjo continuam a ser devidamente acompanhadas ao nível da saúde e haja uma efetiva redução da vulnerabilidade populacional para as doenças infeciosas prioritárias em situação de pós-desastre, a AMI desenhou um projeto – Mangwana –Prevenção de Doenças de Potencial Epidémico, Pós Ciclone Idai que irá implementar, através de um PIPOL –Projeto Internacional em Parceria com Organizações Locais com a associação local ESMABAMA.

Este projeto tem um orçamento de 30.000 euros, nos Bairros 13 e 14 (Beira) e estender-se-á durante um ano, até 31 de maio de 2020, tendo como principais objetivos: promover uma abordagem comunitária para comunicação de risco e promoção de medidas preventivas e de controlo pessoal e ambiental para doenças infeciosas prioritárias, nas comunidades beneficiárias; promover uma abordagem comunitária para implementação de medidas preventivas e de controlo pessoal e ambiental para algumas doenças infeciosas prioritárias aos agregados familiares de risco nas comunidades abrangidas.

A AMI agradece a todos os que contribuíram para a concretização desta missão, desde voluntários a doadores e parceiros.


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