AMI Concept Store cria projeto inovador de upcycling

Em parceria com a Universidade NOVA de Lisboa, a ETIC e a World Academy, a AMI Concept Store – o mais recente projeto de investimento social da Fundação – disponibilizou peças de “restos de coleção”, doados à AMI, para o desenvolvimento de um trabalho de reutilização criativa, realizado pelos alunos do curso de Design de Moda da ETIC e da World Academy.

As 10 peças criadas pelos alunos da cadeira de “Estudos Avançados em Têxteis” da ETIC já estão em processo de conceção desde o dia 17 de outubro e estarão à venda, na loja da AMI, a partir de quinta-feira, dia 24.

Cada aluno da ETIC teve a possibilidade de selecionar quatro peças entre 50, triadas pela AMI, que, devido às marcas naturais acumuladas ao longo do tempo – em armazém, ou mesmo em exposição, nas montras -, não reuniam condições para serem vendidas.

“São blusas, calças, vestidos de diversos materiais, como jeans, seda e algodão, todas elas com algum defeito, que, de outro modo, seriam destruídas”, explica uma das responsáveis pelo projeto, Margarida Cortes Rosa.  

Paolo Casilli, coordenador do Programa de Inovação Social da AMI, destaca o valor do material e revela que a expectativa em relação ao sucesso deste projeto é alta: “Espera-se um produto final em upcycling de muito boa qualidade”. 

Ana Afonso, professora da cadeira de “Estudos Avançados em Têxteis”, da ETIC, conta que a prática de upcycling foi introduzida no curso de Moda em 2018, de forma a contextualizar a temática da sustentabilidade e novos modelos de moda circular. 

“Preparar os alunos para esta realidade é prepará-los para um futuro onde terão de ter em conta a realidade social, ambiental e económica”, afirma a designer de moda sustentável. 

Durante o processo de criação, os alunos fizeram uma espécie de “rastreamento”, desde a origem das matérias-primas e o processo de extração, até à chegada das peças nos pontos de venda, passando pela produção dos tecidos e confeção. Segundo a professora, não é um trabalho fácil, já que estas informações nem sempre são divulgadas.  

“A ideia é os alunos entenderem as questões relativas à transparência das empresas em relação aos seus processos e métodos de fabrico”, explica Ana Afonso. 

O valor angariado com as vendas destas 10 peças irá reverter para o projeto Ecoética, da AMI, que tem trabalhado na reabilitação de terrenos afetados pelos incêndios de 2017 e 2018 em Portugal. 

Já o trabalho desenvolvido pelos alunos da cadeira de “Upcycling” da World Academy irá resultar em duas coleções, sendo uma delas criada apenas com camisas brancas. As peças estarão expostas no Festival World Academy, que será realizado em julho do próximo ano.

Dino Alves, professor da cadeira de “Upcycling”, relaciona a escolha das camisas brancas com a “tela em branco” do artista: “Quis, de alguma maneira, que todos os alunos começassem da mesma base, do mesmo ponto de partida”.

O estilista, formado em Pintura, conta que “como não tinha técnica, o ‘partir de uma peça que já existia’ facilitava a vida”. Mais que isto, pensar numa peça de raiz assustava-o. “Agarrar numa peça, numa camisa, numas calças e a partir dali construir a minha peça era quase como se alguém tivesse aberto o caminho para mim”, lembra.

O convite para dar aulas na World Academy surgiu pelo facto de o estilista ter começado a fazer moda com upcycling numa altura em que as pessoas ainda não aceitavam muito bem a “reciclagem e transformação de peças” e a preocupação com o meio ambiente não era tão urgente como é hoje.

Em 1997, quando Dino Alves começou a participar na ModaLisboa, 80% dos seus desfiles eram com peças upcycling. Ao falar sobre o seu projeto “Hospital da Roupa” – que transforma peças com nódoas, rasgões e “desatualizadas” em peças de autor -, o estilista chama a atenção para um dos fundamentos desta prática, que é a valorização da roupa. “O upcycling não passa por remediar, mas sim por transformar numa peça nova”, explica. 

Além disso, segundo Dino Alves, uma peça que passa pelo processo de upcycling tem que ter utilidade: “O importante é que, quando se pega numa peça, essa peça seja vestida”. O estilista procura incutir nos alunos a ideia de que “é possível, com peças que estão estagnadas ou que vão para o lixo, completar o guarda-roupa com peças novas e evitar o consumo excessivo”.

Para o estilista, é importante que as pessoas encarem o upcycling não como uma tendência, mas como uma disciplina que deve ser cada vez mais valorizada.

As peças de roupa que compõem as várias coleções da AMI Concept Store são todas novas e têm, em média, 80% de desconto sobre o preço original. Na loja, é o cliente quem escolhe o projeto da AMI para o qual pretende destinar o valor da sua compra. Neste momento, os projetos disponíveis são “Ecoética​”, “Cabazes Alimentares Lisboa/Cascais​” e “Missão de Emergência Ucrânia”. 

Recorde-se que este projeto só foi possível graças ao apoio da Câmara Municipal de Cascais, à Marques Soares, à Rosa&Teixeira, à Bulhosas e à Auchan Portugal. 

A loja foi toda decorada com materiais reaproveitados e o mínimo de recursos possível. A Armasul, por exemplo, ofereceu uma bobine de obra que tinha em estaleiro, que é, hoje, a mesa central da loja, depois de restaurada. Já os cabides de cartão foram uma doação da Bulhosas, marca portuguesa de artes gráficas. 

A AMI Concept Store pretende, ainda, promover workshops de costura e reciclagem de têxteis, para além de outras ações de consciencialização, sempre com o foco na economia circular. A ideia é, também, desenvolver ateliers gratuitos de profissionalização, que possam funcionar como um incentivo às pessoas que estão à procura de emprego. ​ 


2 thoughts on “AMI Concept Store cria projeto inovador de upcycling

  1. Poderiam ter dado mais ênfase aos alunos da universidade Nova SBE que foram quem realmente criou a ideia e a implementou, fora que foram o ponto de contacto com a world academy e que trouxe o projeto à vida desde o processo de conceitualização até à realização do mesmo. Foi no mínimo um bocadinho ingrato.

  2. José Guimarães says:

    Caro Filipe Costa,
    Agradecemos o seu comentário e lamentamos que tenha sentido que não foi dado destaque suficiente aos alunos da NOVA SBE. Estamos muito gratos pelo trabalho fantástico dos alunos da NOVA SBE e pelo apoio que deram e continuam a dar à AMI em várias áreas.

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