Viver com dignidade

apoio domiciliario

O Serviço de Apoio Domiciliário (SAD) da AMI foi criado para a prestação de cuidados, no domicílio, a famílias e pessoas singulares que se encontrem em situação de dependência física ou psíquica e que não possam assegurar de forma autónoma as suas necessidades básicas, nem disponham de apoio familiar para o efeito.

Fomos acompanhar o Serviço de Apoio Domiciliário, uma resposta social de acompanhamento e assistência que assegura a manutenção dos cuidados alimentares e de saúde de pessoas com mais de 65 anos ou sem autonomia temporária ou crónica para tal, em diversos pontos da cidade de Lisboa.

Desde 2000, foram apoiados diretamente cerca de 449 beneficiários. Em 2019, 44 pessoas usufruíram do SAD, nas suas diversas vertentes, das quais 33 transitaram do ano anterior e 11 constituíram novos casos. A população é maioritariamente feminina e apresenta
uma média de idade de 78 anos.

Esta resposta social da AMI apoia maioritariamente pessoas viúvas, mas também existem casos em que ambos os cônjuges são abrangidos, embora de forma focalizada e garantindo as necessidades individuais de cada membro do agregado, seja do ponto de vista de alimentação, de saúde e de higienização.

As pessoas apoiadas por este serviço residem em várias freguesias de Lisboa, como Areeiro, Beato, Marvila e Penha de França.

Os objetivos primordiais do Serviço de Apoio Domiciliário são a melhoria da qualidade de vida dos beneficiários e das suas famílias, estabelecendo uma relação de proximidade e confiança com os mesmos, pelo que as equipas de Auxiliares de Ação Direta (AAD)
têm muitas vezes a chave da casa das pessoas apoiadas, para prevenir situações de emergência.

Em paralelo, é uma prioridade garantir a permanência dos anciãos no seu meio habitual e lugar de conforto, retardando o mais possível o recurso a estruturas residenciais, promovendo estratégias de desenvolvimento de autonomia, caso haja possibilidade para tal.

As Atividades da Vida Diária (AVD), em que a equipa de Auxiliares de Ação Direta intervém, são desempenhadas em diversas escalas de atuação, desde as atividades Básicas de Autocuidado, que incluem vestir, dar banho, alimentação, descanso e mobilidade; as Atividades Intermédias ou Instrumentais, ou seja, todo o apoio relacionado com a ajuda na gestão do orçamento doméstico, utilização de equipamentos (telefone e eletrodomésticos), deslocações ao exterior e auxílio com as compras; e ainda as Atividades Avançadas, que passam pelas funções necessárias para se viver sozinho, isto é, de caráter ocupacional, recreativo e comunitário.

Por todos estes motivos, as equipas do Serviço de Apoio Domiciliário são multifacetadas e dinâmicas, pelo que começam às 9h da manhã a organizar as diferentes fases daquele que é o plano de intervenção para o resto do seu dia e semana. São 12 auxiliares de ação
direta para um total de 34 séniores, que se distribuem geralmente em equipas de dois.

Todas as manhãs, o dia começa pela chegada das refeições, já confecionadas por uma empresa fornecedora, para serem distribuídas ao domicílio de cada um dos beneficiários que requerem este serviço.

A ementa é definida na semana anterior, tendo variedade para todos os gostos e atendendo às condições de saúde de cada um.

Em 2019, foram distribuídas cerca de 17.917 refeições a um total de 34 pessoas (75% dos beneficiários), sendo o segundo serviço mais procurado o de higiene pessoal, seguindo-se a higiene habitacional e o tratamento da roupa.

Assim que chega o Senhor Alcindo, o motorista do SAD, começa a azáfama de carregar a carrinha com as refeições para se fazer o circuito habitual pelas diversas residências e levar os auxiliares às “suas casas”. 

O Senhor Manuel Pina Filipe é uma das pessoas abrangidas pelo SAD. Teve conhecimento deste serviço através de uma das assistentes sociais do Centro Porta Amiga das Olaias. “Vão a minha casa uma vez por semana, limpam-ma quase toda e mudam a roupa da cama(…) este serviço fez-me deixar de ter preocupações, posso ficar descansado com a manutenção da minha casa”. O Sr. Manuel não necessita da distribuição alimentar, diz que prefere ir ao Centro Porta Amiga, perto da sua casa, onde aproveita para conversar um bocadinho e passar o tempo. Para além disso, faz questão de tomar a sua medicação lá, onde existe um mapa que pode consultar, e onde recebe orientações por parte das auxiliares e assistentes sociais do CPA.

Partimos por volta das 10h da manhã e fizémos “a ronda” por sete domicílios. O Sr. Alcindo Andrade, de 71 anos, é uma figura sui generis na AMI, conhecido como o homem que de todos cuida e que todos alegra. Conta que, ao longo dos últimos 12 anos, a trabalhar
neste serviço da AMI, desenvolveu relações de profunda amizade. Descreveu o conforto de saber que houve quem, à janela, esperasse pela sua chegada, religiosamente, todos os dias. Desvaneceu-se-lhe o imutável sorriso por breves instantes ao desabafar que também viu pessoas partir sem ter oportunidade de se despedir, e que por vezes até foi quem deu a triste notícia à família.

No decorrer do percurso do Senhor Alcindo, fomos buscar a Elisa e a Ilsa, auxiliares que tinham como próxima paragem a freguesia de Arroios, para ver uma senhora acamada, dar-lhe banho, o almoço e organizar-lhe a casa.

Não entrámos por questões de segurança, mas pudemos ver a profunda confiança e responsabilidade depositada nestas equipas. “É um trabalho duro que tem de ser feito e nós queremos fazê-lo porque mais ninguém o faz”, revela Elisa à entrada de mais uma casa, de mais uma vida.

Os desafios desta profissão são muitas vezes agravados pela limitação de recursos materiais e humanos para garantir o maior bem-estar possível dos beneficários do Serviço de Apoio Domiciliário.

Não obstante, a flexibilidade, dedicação e disponibilidade dos Auxiliares de Ação Direta, pessoas como o Alcindo, a Elisa, a Ilsa, a Sandra, o Jaipracash, a Cidália ou a Encarnação, alteram consideravelmente ou, dependendo das circunstâncias, asseguram a dignidade
da vivência destes anciãos, que nada menos merecem do que todo o cuidado e carinho que lhes possa ser proporcionado.


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