Testemunho de uma voluntária da AMI

Sempre fui um tanto envergonhada e nunca gostei de incomodar os outros. A ideia de estar na rua, com uma latinha pendurada ao pescoço, abordando as pessoas para que contribuam para um peditório é-me, à partida, desconfortável. E é por isso que, sempre que chega esta altura do ano, faço este pequeno esforço.

Gostava que quem passa por mim, durante os dias de peditório, soubesse que também me incomoda estar ali. Também preferia ter outro programa. Também não gosto de fazer alguém parar para me ouvir. Mas a vida é assim, dias de praia e dias de trabalho; dias de chuva e dias de sol; dias que passamos na nossa zona de conforto e outros em que decidimos sair dela.

Faço o Peditório da AMI há mais de 15 anos. Com um sorriso e tentando ser agradável. Porquê? Porque não é para mim. Porque há inúmeras famílias para quem a AMI é imprescindível. E porque também tenho uma família e nem consigo imaginar estar dependente de outros para alimentar os meus filhos. Ou lhes proporcionar uma consulta médica ou educação.

Na verdade, saio da minha zona de conforto, porque posso voltar para ela a seguir. E quem não pode? É por eles.

Participo no Peditório porque sou privilegiada e tenho escolha. A sua parte será só contribuir com a quantia que achar adequada. Sabe? É que não é para mim. Só estamos a pedir porque temos a quem dar. Infelizmente.

E então? Mãos à obra? Eu peço, sorrindo. E você contribui, retribuindo o sorriso. O donativo pode ser o que entender. O sorriso, esse, gostava que fosse do tamanho do meu. Grande.

Vai ver que não dói nada.