Tareque Jabed, um homem de causas

Nome: S.M Tareque

Idade: 56 anos

Nacionalidade: Bangladeshiana

Gestor de projetos, com mais de 30 anos de experiência na área do desenvolvimento, desenho de projetos, planos operacionais, gestão financeira, gestão de staff, organização e supervisão de projetos implementados, monitorização e avaliação dos mesmos, training, networking, representação e reporting a doadores. Capaz e confiante de contribuir eficazmente para qualquer desafio na área de cooperação e desenvolvimento.

Experiência em local governance, desenvolvimento rural integrado, empowerment comunitário, redução do risco de catástrofes naturais e gestão pós desastre. Familiaridade com procedimentos e sistemas de monitorização.

Quais são as áreas de intervenção da BISAP e que valores é que esta ONG defende?

A BISAP – Bangladesh Integrated Social Advancement Programme – é uma organização não governamental que presta serviços e desenvolve atividades ligadas à garantia dos direitos humanos, dirigida a refugiados e a populações a viver em pobreza extrema. A BISAP procura contribuir para a qualidade de vida e melhoria das condições socioeconómicas e de saúde de todas as pessoas. Trabalha também com o intuito de promover oportunidades de administração participativa, em conjunto com todos os elementos governativos envolvidos nas nossas intervenções, desde Organizações Não Governamentais, Organizações comunitárias da sociedade civil, agências de media nacionais e internacionais, parceiros para o desenvolvimento e outros stakeholders interessados nos desafios emergentes no nosso país.

Qual é a sua função na BISAP e em que é que consiste o seu trabalho diário?

Tenho liderado inúmeras ações para a melhoria da qualidade de vida de populações desprivilegiadas em seis distritos no Bangladesh, como Chefe Executivo da Organização. Implementei nomeadamente programas de Educação Informal, de Prevenção para o Tráfico de Mulheres e Crianças, Reabilitação e Alívio a Refugiados, Prevenção de HIV/DST/AIDS, Redução da Pobreza e da Fome nas populações costeiras, Redução do Risco de Catástrofes associadas às alterações climáticas, Cuidados de Saúde para mães e filhos, Acesso a Água e Saneamento, Erradicação do trabalho infantil envolvendo resíduos perigosos, Programas de Capacitação e melhoria do ambiente de trabalho, Emergência Pós Cheias, Educação e treino vocacional com crianças de rua e crianças trabalhadoras em guetos urbanos, Gestão de conflitos comunitários entre elefantes e humanos, sustentabilidade florestal e necessidades fundamentais.

Como é que começou a trabalhar como agente humanitário na BISAP?

Comecei a trabalhar na BISAP em 1989, em resultado de um fundo apoio mútuo financiado igualitariamente pelas instituições britânicas ODA (Official Development Assistance) e CAFOD (Catholic International Development Charity). Comecei a trabalhar num projeto que visava a melhoria da qualidade de vida de refugiados e moradores dos guetos de Chittagong e no Distrito de Dhaka, no Bangladesh. Desde então tenho estado envolvido no empoderamento de pessoas não privilegiadas e marginalizadas, garantindo o acesso efetivo a serviços de saúde e educativos, com a assistência financeira de Agências governamentais nacionais e internacionais.

Qual é o principal problema humanitário que as pessoas enfrentam atualmente no Bangladesh e que requer o vosso especial foco, em termos de intervenção?

A pandemia pelo Covid-19 tem agora quase meio ano e encontra-se indiscutivelmente numa fase prematura. Quer seja este vírus, quer sejam as alterações climáticas, ambas afetarão profundamente os todos os países, independentemente de quão ricos ou pobres forem. O corolário da situação atual é que a riqueza de um país é um indicador muito pobre, pois não consegue determinar o quão bem-sucedido será na resolução destas problemáticas, o que pode ser verificado de momento nos países mais ricos do mundo.

A lições que emergem desta pandemia pelo novo coronavírus no nosso país prendem-se pelas repercussões económicas, que por sua vez terão consequências para a saúde publica, para o cumprimento das medidas de confinamento e ainda para as políticas de recuperação económica e crescimento. Temos de melhorar a saúde da população em geral. Embora ainda estejamos num estágio prematuro desta pandemia e das emergências relacionadas com as alterações climáticas, as coisas têm realmente tendência a piorar a médio prazo e, apenas melhorarão a longo prazo se tomarmos decisões apropriadas e em tempo útil. É abundantemente claro que, assumir medidas preventivas e adaptativas antecipadamente pode salvar vidas, sem falar das preocupações recorrentes com as cheias, desastres naturais, ciclones e maremotos do ponto de vista humanitário e para as populações do Bangladesh.

Na sua perceção, como é que a crise dos Rohingya pode ser aliviada, especialmente para as populações refugiadas no Bangladesh?

O peso de resolver a crise dos Rohingya cai desproporcionalmente no Bangladesh. Compreensivelmente, as políticas de resposta no Bangladesh estão focadas no repatriamento dos Rohingya, o que parece ser a única solução viável e duradoura. As expetativas atuais de retorno, levam a que as comunidades Rohingya tenham vontade de reivindicar os seus direitos no seu país de origem, em termos de aquisição de nacionalidade e de proteção e garantia dos direitos humanos. Direitos que devem ser efetivamente concedidos pelas autoridades no Myanmar.

Muitos Rohingya expressam o desejo de voltar. A garantia de um retorno seguro tem de ser assegurado pelas Nações Unidas. As Nações Unidas continuam a ter uma presença operacional e política limitada, assim como oportunidades para expandir o seu papel na garantia dos Direitos Humanos e na proteção de refugiados em Myanmar. Dois anos e meio se passaram desde o último influxo em massa, a crise de Refugiados Rohingya permanece um enorme desafio para a comunidade internacional, em particular no Bangladesh. O ambiente político vivido atualmente em torno da problemática das populações Rohingya não é fácil e existe uma preocupação legitima de que a comunidade internacional venha a perder interesse nesta crise, o que pode impactar significativamente a disponibilidade de recursos. Nesse cenário, o Bangladesh terá de enfrentar as circunstâncias sem apoio internacional e será improvável que tenha a capacidade de integrar um milhão dos seus vizinhos como cidadãos.

Numa perspetiva de longo prazo, existem soluções concretas para esta crise?

A solução para esta crise, e numa perspetiva a longo termo, passa por exercer pressão internacional sobre o Myanmar, através das Nações Unidas e de outros países que tenham influência sobre Naypyitaw, focando-se na melhoria das condições de vida dos Rohingya que ainda vivem no estado do Rakhine. Este tem de ser um pré-requisito para qualquer retorno sustentável. Esta pressão deve implicar a implementação das recomendações da Comissão Kofi Annan de agosto de 2017, particularmente detalhadas no que toca à abordagem às questões de discriminação, garantia dos direitos de circulação e rotas seguras, de modo a garantir os direitos de cidadania das populações Rohingya.

Enquanto trabalhador humanitário, o que é que o faz sentir mais forte e mais enfraquecido, em resultado da prática da sua profissão?

O aspeto em que me sinto mais forte toca à minha confiabilidade. Mantenho sempre a minha palavra e cumpro as minhas obrigações. Assumo responsabilidade por cada uma das ações e por cada uma das intervenções em que me envolvo. Estou apto para trabalhar em equipa e para colaborar com outras pessoas, de modo a alcançar um determinado objetivo. Estou sempre disposto a aprender no âmbito de problemáticas ligadas ao desenvolvimento. Sou capaz de me relacionar e de interagir com qualquer pessoa ou comunidade.

Tendo em conta que estou sempre a menosprezar o meu trabalho e o valor das minhas intervenções, é-me fácil descrever os meus pontos fracos… A propósito do que disse anteriormente, claro, a insegurança é a primeira e a mais forte das minhas fraquezas, embora por vezes acredite que esta característica me ajude. Ou seja, ajuda-me a ser melhor, a obter mais conhecimento e capacidades e não tomar como garantido aquilo que já conquistei. Sou tímido, ou melhor, sou reservado. É o meu segundo ponto fraco e aquele em que tenho trabalhado para superar. Sou muito refletivo e peso cuidadosamente todas as decisões que tomo.


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