Pressão social agudiza-se em 2022

Mais de 55% dos beneficiários da AMI procuram apoio alimentar.

Em 2022 a procura de apoios nos serviços sociais da AMI aumentou mais de 26%. As pessoas que procuram ajuda têm rendimentos provenientes de trabalho, sendo que a maior parte dos pedidos de apoio são realizados por pessoas em idade ativa, entre os 16 e os 65 anos. E 55% dos pedidos de apoio que chegaram aos equipamentos da AMI estão relacionados com ajuda alimentar, o que Fernando Nobre, Presidente da AMI, aponta como “consequência de uma grande depressão económica e social” e o início de “um cenário muito negro causado pela inflação”.

No primeiro semestre de 2022, os serviços sociais da AMI apoiaram 6.869 pessoas, mais 26,5% em relação ao período homólogo de 2021. Destas pessoas, 928 procuraram o apoio da AMI pela primeira vez, o que também representa um aumento significativo de 23,6%, em relação a 2021. Números que Fernando Nobre, considera um espelho da “grande depressão económica e social que se avizinha”. E um contexto onde “a pobreza escondida já não está assim tão escondida, sendo a população ativa a que mais pede ajuda, com baixos salários e sem capacidade para responder à inflação”.

Uma análise que Fernando Nobre avança “sem querer pintar o quadro muito negro, porque já o é quanto baste”, tendo em conta os apoios requeridos nos serviços sociais da AMI em todo o país, no primeiro semestre de 2022.

A maior parte das pessoas apoiadas pelos equipamentos sociais da AMI, 51% mulheres e 49% homens, está em idade ativa, tem entre os 16 e os 65 anos (69%), seguindo-se o grupo de menores de 16 anos que corresponde a 22% e os maiores de 65 anos, que representam 8%.

Entre a população que recorreu aos serviços sociais da AMI, 42,6% não exerce qualquer atividade profissional no grupo com mais de 16 anos. A maioria da população tem apenas recursos económicos provenientes de apoios sociais, como o Rendimento Social de Inserção (17%), pensões e reformas (10%) e subsídios e apoios institucionais (6%). Apenas 10% tem rendimentos de trabalho, mas que se revela precário e insuficiente, motivo pelo qual mantêm a necessidade de recorrer aos apoios sociais, financeiros, alimentares, vestuário, equipamentos domésticos e/ou material escolar.

No que diz respeito a bens alimentares, 55% da população que procurou ajuda junto dos serviços sociais da AMI foi apoiado pela distribuição alimentar do Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas. A esta percentagem, acresce, ainda, um total de 79.773 refeições servidas nos refeitórios dos Centros Porta Amiga, sendo um dos serviços mais utilizados no primeiro semestre de 2022.

Fernando Nobre recorda que “o POAPMC tem extrema importância para dar resposta a uma população cada vez mais carenciada”. O fundador da AMI salienta que “a inflação atual e probabilidade de ainda subir mais, significa um aumento do custo de vida em todos os sectores”. E, se este aumento continuar a registar-se, “as famílias que ainda estavam na classe média baixa, mas ainda não estavam na pobreza, estão a ter que fazer opções, com o inverno à porta, entre pagar renda, comprar medicamentos, aquecer-se, comer”.

Neste cenário, a ajuda do POAPMC “não será suficiente, aliás, só no distrito do Porto cerca de 175 pessoas estão em lista de espera para receber apoio alimentar ao abrigo do POAPMC”.

A solução passa pelos apoios complementares que as próprias instituições podem manter com os seus recursos, “como o fundo de apoio social da AMI que permite a cada equipamento social aprovar imediatamente uma ajuda de emergência para famílias que tenham uma renda em atraso, água ou luz, despesa extra com medicamentos, etc.”.

Quanto à sustentabilidade de instituições que prestam apoios sociais como a AMI “ela estará assegurada”, garante Fernando Nobre “mas, é preciso encontrar suplementos”.

Cerca de mil pessoas em situação sem-abrigo

“A grande depressão” referida por Fernando Nobre colocou em risco uma população que, até há pouco tempo, era considerada “a classe média baixa”. Atirando essa população para a pobreza, “certamente que quem estava na pobreza é empurrado para a miséria”.

No primeiro semestre de 2022, a AMI registou 945 pessoas em situação sem-abrigo em Lisboa, Porto e Gaia, que correspondem a mais 16,5% em relação ao mesmo período de 2021. Nesta população, 177 são novos casos.

Os locais de pernoita mais frequentes são a rua ou espaço público (16%); alojamento específico para pessoas em situação de sem-abrigo, como abrigos temporários ou de emergência (13%); pensão/quarto (13%). E a casa de familiares ou amigos representa 9% dos locais de pernoita.


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