Ontem foi dia de quebrar muros, na cidade de Lisboa e noutras 29 capitais europeias, em resultado da campanha “No More Bricks in the Wall”. Esta campanha, financiada pela União Europeia e promovida pelo projeto Snapshots from the Borders, teve como foco a promoção do dia 3 de outubro como o Dia Europeu da Memória e do Acolhimento.
A 3 de outubro de 2013, 368 pessoas atravessaram o Mediterrâneo na tentativa de chegar à ilha de Lampedusa, em busca de melhores condições de vida. Tragicamente, não conseguiram chegar ao seu destino, ao seu futuro. A travessia marítima a partir do norte de África e outras partes do globo tem sido uma prática recorrente de pessoas que tentam imigrar de forma ilegal para a Europa por rotas perigosas e até fatais.
A iniciativa “No More Bricks in the Wall”, que em Portugal foi representada pela AMI – Assistência Médica Internacional – sob o mote “WALL: Derrubar muros. Construir futuros”, decorreu ontem no largo de São Domingos e, em conjunto com as restantes capitais europeias, procurou fundamentalmente incentivar à assinatura da petição que pretende fazer do dia 3 de outubro uma data de homenagem ao valor da vida e da dignidade humana.
Este evento, liderado pela AMI, contou com a presença de diversos atores da sociedade civil, bem como dirigentes das diversas dimensões políticas, culturais e religiosas no país. O Presidente da AMI, Fernando Nobre, assinalou a abertura do evento, manifestando a importância de definir políticas claras de acolhimento e integração para fazer face aos crescentes e inevitáveis movimentos migratórios. A praça, simbolicamente escolhida para este encontro, pela sua multiculturalidade e pela história inerente ao lugar foi palco de diversas atividades de rua: o flashmob da escola Art of Dance by Colin, coreografado por Cifrão e Colin, e inspirado no tema das migrações, que ocorreu em três momentos distintos ao longo do dia; a exposição de fotografia “De onde vem?” de Alfredo Cunha, cujo mote são os rostos de pessoas de várias nacionalidades, sendo o desafio tentar adivinhar a nacionalidade de cada uma das pessoas retratadas; a divulgação da App WALL, que permite testar o conhecimento sobre migrações e descobrir as respostas à exposição; e a exibição do documentário “Città Giardino”. O filme, escrito e realizado por Marco Piccareda e Gaia Formenti em 2015, aborda a questão dos menores refugiados que chegam à Europa não acompanhados e o seu dia-a-dia num centro de detenção no sul de Itália.
Em sequência da exibição deste documentário, Francesco Vacchiano, investigador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa interveio, esclarecendo o público de que “este filme retrata o dia-a-dia do acolhimento na sua pior forma, a vida nua destes jovens. Este documentário demonstra o quão importante uma coisa tão simples como o conforto nos faz sentir em casa… acolher é um processo complexo e sensível “.
Serviu-se ainda da expressão árabe “alhaya karāma”, vida digna, para ilustrar o que todos aqueles que migram voluntaria ou involuntariamente dos seus países de origem procuram. “A questão do futuro é importantíssima, quem imigra ou foge do seu país de origem procura pelo futuro, por uma vida como a nossa, melhor do que aquela que teriam no seu país”.
O objetivo de atingir 10 mil assinaturas foi praticamente alcançado, registando-se um total de 9.700 assinaturas. No entanto, a petição continua a decorrer em https://you.wemove.eu/campaigns/facamos-do-dia-3-de-outubro-o-dia-europeu-da-memoria-e-do-acolhimento para todos os que queiram contribuir para esta causa e memorizar este dia.
Recorde-se que a AMI foi selecionada pelo projeto “Snapshots from the Borders”, financiado pela União Europeia e promovido por 35 parceiros europeus, entre atores da sociedade civil e autoridades locais, para ser a representante portuguesa da campanha “No More Bricks in the Wall”.
Mais informações sobre esta iniciativa em https://ami.org.pt/wall