Histórias de Vida – Centro Porta Amiga de Vila Nova de Gaia

A história de Teresa (nome fictício) e do centro Porta Amiga de Gaia, poderia ter como início o famoso “Era uma vez, algures em 2008”, remetendo-nos imediatamente para um final feliz.

Teresa e a sua irmã são as grandes protagonistas desta história de vida. História em que, ao longo destes anos, também figuram técnicos de todos os serviços do Centro Porta Amiga, como foi o caso, por exemplo, do Apoio Social e do Gabinete de Apoio ao Emprego e Formação Profissional. Apresentemos então, estas duas irmãs.

Com um diagnóstico de deficiência mental ligeira, Teresa levou a cabo algumas tentativas de suicídio, tendo por isso recebido apoio psicológico. Foi claro, desde o início, para todos técnicos envolvidos neste processo, que Teresa deveria receber uma pensão por invalidez, mas esta apenas surgiu em 2012. Até lá, era beneficiária de RSI.

A sua irmã sofre de um défice motor, assim como de alguma debilidade mental. Embora receba uma pensão de sobrevivência, é a sua cunhada quem gere este dinheiro, pelo que as duas irmãs apenas podem contar com o rendimento de Teresa para sobreviver.

Ainda que a pobreza seja a realidade com que lidamos diariamente, a perplexidade assolou-nos quando tomámos conhecimento das condições desumanas em que estas duas irmãs viviam. Desde a morte dos seus pais, ocupavam um “local”, que não pode sequer ser chamado de casa, nas traseiras de casa do seu irmão. Tudo faltava naquele espaço: água, eletricidade, casa de banho, conforto e dignidade. Em compensação, abundava a humidade, o frio, buracos no chão e até ratos. Esta situação punha, portanto, em risco, a sua saúde e vida de ambas, atingindo o pico do perigo no Outono e Inverno devido à iminência do teto ruir com a chuva.

Se a este quadro, já bastante negro, adicionarmos a saúde mental bastante débil e consequentes gastos com medicação; a gestão da pensão de sobrevivência da irmã de Teresa por parte da cunhada e o indeferimento aos vários pedidos de Habitação Social, percebemos rapidamente quão dura foi a luta de toda a equipa para que hoje pudéssemos contar esta história como sendo de sucesso.

Em outubro de 2016, esta família foi finalmente realojada mas, durante todos estes anos de espera, nunca baixámos os braços. A par de todos os contactos e passos dados em parceria com a Gaiurb (empresa municipal que gere a habitação social na cidade), a equipa do Centro Porta Amiga de Vila Nova de Gaia desdobrou-se em esforços para assegurar a qualidade de vida possível a estas duas irmãs.

O tão almejado desfecho deste longo processo é um marco histórico na vida de Teresa e da sua irmã, que hoje têm finalmente um sítio a que podem chamar casa, mas também na nossa, enquanto técnicos desta instituição, que tantas vezes lidamos com a frustração e impotência. São histórias como estas que nos alimentam a alma e enchem de força para continuar a abrir caminho face às adversidades.