AMI promove método de reflorestação inédito em Portugal

Enquadrada no projeto Ecoética, a ação envolveu cerca de 100 voluntários na limpeza e preparação prévia do terreno para a plantação de 10 mil árvores.

Em 2017, segundo o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), arderam em Portugal mais de 440 mil hectares de terra, vitimando 112 pessoas. Só no Concelho de Gouveia, foram queimados 14 mil hectares, nos incêndios de 15 e 16 de outubro. Face a esta catástrofe, a AMI decidiu criar um fundo de emergência de 30 mil euros anuais para financiamento de projetos que tenham como objetivo atenuar as consequências humanas e ambientais da devastação causada pelo fogo. Este ano, o montante já foi aplicado na recuperação de um terreno ardido na Freguesia de Folgosinho, no concelho de Gouveia.

“Começámos por Gouveia não só porque foi uma das zonas mais afetadas pelos incêndios, mas também porque na zona da Serra da Estrela nascem dois dos rios mais importantes do país, que abastecem cerca de 40% da população”, explica Gonçalo Santos, diretor do Departamento de Ambiente da AMI. 

A operação, totalmente planeada pela AMI, teve início no dia 13 de janeiro e incluiu várias fases, tendo sido levada a cabo numa área de 3 hectares, adjudicada pela Associação dos Baldios. Em primeiro lugar, foi realizado um trabalho de limpeza do solo, que implicou a remoção das cinzas da superfície, processo que facilita a capacidade de infiltração da água e absorção dos elementos orgânicos.

Numa fase pós-limpeza, o mato e os restos ardidos foram cortados, triturados e incorporados no solo, de forma a aumentar o seu teor de matéria orgânica, sendo todo o terreno, depois, lavrado com a utilização de maquinaria pesada, em parte contratada para o efeito dada a situação crítica em que se encontrava o local após os incêndios. 

Para esta primeira fase, a AMI contou com a preciosa ajuda de cerca de 100 voluntários locais, junto dos quais a associação Folgonatur divulgou a ação. 

Mas o que distingue este projeto é o método, inédito em Portugal, a que a AMI recorreu para a fase seguinte: a plantação das novas espécies. É que esta fase foi concretizada com o recurso a drones (para conseguir alcançar zonas de difícil acesso) e a “bolas de sementes” largadas por estes, numa ação que decorreu no dia 20 de janeiro.

Trata-se de uma técnica cujo alcance e precisão são consideravelmente superiores às tradicionais, além de que permite o controlo de fileiras e o acesso a zonas sinuosas e de relevo acentuado. No total, foram utilizados quatro drones: enquanto dois traçavam as linhas para a plantação, outros dois libertavam as “seed balls”, que caem em linha reta. A cada lançamento, foram libertadas entre 10 a 20 bolas por drone, com 8 a 10 sementes cada uma, sendo que os drones se reabasteciam, para novo lançamento, sempre que esgotavam o seu stock. 

Estas “seed balls” são sensivelmente do tamanho de tangerinas, contendo as sementes envolvidas numa massa de argila com nutrientes, que as protege depois de lançadas e garante a qualidade das mesmas até a germinação.

As sementes incluídas nas “seed balls” são de espécies arbóreas autóctones ‒ carvalho-negral, castanheiro e bétula ‒ espécies essas escolhidas com o parecer de técnicos especializados a cujos serviços a AMI recorreu.

A opção por estas espécies autóctones ‒ de produção nacional ‒ justifica-se pela sua alta resistência às chamas e fácil adaptação ao relevo, clima e localização. “São sementes de espécies mais bem-adaptadas às condições climáticas, que consomem menos água e, sobretudo, quando ardem, ardem numa temperatura muito inferior; portanto, é possível combater um eventual incêndio mais facilmente”, esclarece Gonçalo Santos.

O Presidente da Câmara Municipal de Gouveia, Luís Manuel Tadeu Marques, afirmou, em entrevista à TSF que a técnica utilizada pela AMI permite chegar aonde dificilmente o homem poderia chegar. “Estas iniciativas são fundamentais para que todos em conjunto consigamos o mais rapidamente possível voltar a pôr este território verde como era”.

Depois da plantação, foi realizada uma hidrossementeira de espécies autóctones arbustivas e herbáceas, de forma a reconstruir a cobertura de solo original e diminuir a possibilidade de incêndio. Este processo final cria uma pasta aquosa espessa, a partir da combinação de fibras, sementes, fertilizantes e aditivos biológicos do solo que, depois de aplicada, resulta numa manta resistente às forças de erosão. Segundo o diretor do departamento de Ambiente da AMI, ao fixar o solo, a vegetação rasteira também evita as enxurradas com lama e os deslizamentos de terra.

Para além de toda esta fase operacional, existe um período de acompanhamento, que também conta com a utilização de drones: “Com outro tipo de drones, conseguimos monitorizar os terrenos, o crescimento das espécies e o sucesso da plantação”.

A ação, que teve um custo total de 30 mil euros, foi cofinanciada pela campanha promovida pela Altice – de reconversão de pontos telemóvel em donativos -, sendo também possível contribuir através do Projeto Ecoética, que pretende reabilitar terrenos devolutos, ardidos ou degradados, localizados em todo o território nacional, em parceria com associações florestais e câmaras municipais e com o financiamento e envolvimento de empresas e de cidadãos.

Para além disto, todos podem contribuir para o Fundo de Emergência Incêndios – “cujo objetivo é desenvolver projetos, à partida nas zonas onde os incêndios foram mais severos”, afirma Gonçalo Santos.

Cabe salientar que, ciente de que o ambiente é um vetor fundamental de desenvolvimento das sociedades e de bem-estar das populações e apostando numa estratégia preventiva, de forma a evitar catástrofes humanitárias consequentes da degradação ambiental, a AMI procura promover não só a saúde física, mas também social e ambiental.

Saiba como pode contribuir para este projeto em https://ami.org.pt/como-ajudar/ecoetica