Foto destaque: DR / A AMI mantém a ajuda humanitária à população deslocada na Ucrânia e a refugiados na Roménia, Hungria e em Portugal, tendo aplicado mais de 180 mil euros em nove projetos.
Elina Antalovska acerta o movimento da Clínica de Ambulatório N.º 7, em Uzhhorod, na Ucrânia, pelos cortes de energia. Nos gabinetes terminam-se consultas e encerram-se computadores a partir das 15h00. Apenas cuidados indispensáveis aos doentes são assegurados. Tudo o resto é cortado. Até ao dia seguinte não há telefone, nem internet e luz. As vacinas são salvaguardadas por um gerador da Câmara Municipal de Uzhhorod.
“Os ucranianos vencem todos os dias escuridão, frio, fome e morte”, conta a diretora da Clínica N. º7 que recebe doentes locais e de zonas de conflito, porque “alcançar cuidados de saúde vale o risco de uma travessia pelo país”, conta Elina.
Quando a guerra começou, Elina Antalovska planeou organizar o transporte de medicamentos entre a Hungria e a Ucrânia para ajudar a população afetada pela guerra que procurasse a clínica. Foi então firmada uma parceria entre a Clínica de Ambulatório N.º 7, a farmácia Stella Patika sediada em Vásárosnámeny, na Hungria, e a AMI que, desde março de 2022, permitiu a prestação de cuidados de saúde a mais de 25 mil ucranianos.
Todos os meses, Elina viaja no seu próprio carro, para adquirir medicamentos que a AMI já financiou até hoje com perto de 20.000,00 euros. A médica vai “continuar a lutar pela vida dos ucranianos e para defender a democracia na Ucrânia”.
A 460 quilómetros de Uzhhorod, em Khmelnitsky, entre março e janeiro, a AMI também garantiu cuidados médicos, com consultas de psicologia, além de apoio legal e orientação profissional a 1.500 pessoas. Uma parceria com a organização não governamental Zakhyst, que representou um investimento de quase 18.000,00 euros. Desde o início do conflito, a AMI também assegurou medicamentos, equipamento médico e alimentos para as cidades ucranianas de Bergszász e Munkács.
Para Fernando Nobre, “enquanto não houver negociações de paz novas e sérias, as regiões da Ucrânia ficarão sujeitas a conflito e a população continuará a procurar refúgio nas zonas onde se possa viver ou nos países limítrofes, onde a capacidade de resposta tenderá a esgotar-se”.
Um cenário que leva a AMI a manter a ajuda humanitária na Ucrânia, Roménia, Hungria e também em Portugal sem data de término, tendo já aplicado 186.144.69,00 euros em nove projetos.
Para lá da Ucrânia, o futuro em romeno e português
Na região dos Carpatos romenos, em Oradea, a AMI ajudou a garantir o acesso a habitação, cuidados de saúde e alimentação, para famílias ucranianas refugiadas. O maior desafio do presente é a aprendizagem do romeno. Uma barreira que a AMI está a derrubar em parceria com a International Children’s Safety Service, financiando aulas de romeno para 23 adultos e 20 crianças, com um investimento que ronda os 8.500,00 euros.
Em Portugal, a integração pela aprendizagem da língua também é uma aposta da AMI. No Centro Porta Amiga de Coimbra, as aulas de português representam um ponto forte na integração da comunidade ucraniana. Até ao momento, foram abertas cinco turmas que abrangeram 96 dos 293 refugiados que o centro ajuda a nível alimentar, habitacional, legal, educativo e no acesso a cuidados de saúde. No total, através dos centros Porta Amiga já ronda os 26.000,00 euros o valor aplicado em ajuda alimentar, habitacional, legal, educativa e no acesso a cuidados de saúde.
Para Alina Posokhova e Dmytro Kashkin, “aprender um português fluente é essencial” para ingressarem no mercado de trabalho e, no caso de Dmytro, para frequentar um mestrado na Universidade de Coimbra.
“Coimbra é uma das regiões onde a comunidade ucraniana mais se tem concentrado e, sobretudo, encontrado uma resposta organizada e imediata, para retomar as suas vidas”, afirma Paulo Pereira, diretor do Centro Porta Amiga de Coimbra.
Há um ano, Alina e Dmytro despertavam em Karhkiv para viver o dia do seu casamento. Naquela manhã, os planos caíram por terra quando chegou a notícia da guerra: a Rússia invadira a Ucrânia e em breve os militares chegariam a Karhkiv.
A professora primária e o advogado partiram numa viagem de dias que os trouxe até Portugal, onde se tornaram apenas espetadores de “uma Ucrânia que precisará de ajuda muito além do tempo da guerra”.
Desde setembro, as fugia das zonas de conflito complicaram-se devido ao referendo realizado no Donbass, cujo resultado foi favorável à anexação das auto-proclamadas República Popular de Donetsk e República Popular de Lugansk à Rússia e, mais a norte, tem levado a sucessivos combates na região de Kharkiv. Com o avançar do inverno “as populações ficaram ainda mais isoladas e sem acesso a eletricidade e aquecimento”.
A Organização das Nações Unidas estima mesmo que, desde o início da guerra, a população da Ucrânia passou de 43,3 para 35,6 milhões e que 21 milhões de ucranianos, dentro e fora do país, precisam de ajuda humanitária.