30 Anos de Missões Internacionais

fernandonobre_30anosdemissoes01_edited

“Setembro de 1987. Começa em Lugadjole, no sector do Boé, região de Gabu, na Guiné-Bissau, a primeira missão da AMI no terreno. Foi uma missão histórica, extremamente difícil por várias razões. Primeiro, porque demorando os fundos da então Comunidade Europeia a chegar, a missão arrancou exclusivamente com fundos próprios da minha irmã Leonor, da Luísa Nemésio, hoje minha mulher, e sobretudo meus, numa altura em que ainda tinha o meu consultório no Algarve. Depois, porque as acessibilidades a Lugadjole eram muito duras e o isolamento, total. Recordo, com saudade, o nosso Chefe de Missão dos primeiros dois anos, Jorge Gaspar. Lugadjole foi o meu Lambaréné, o lugar onde mais me aproximei do meu herói e mentor, o Dr. Albert Schweitzer. Aí tive o meu hospital do mato, tendo lá operado em condições incríveis.

De notar que continuamos ativos, 30 anos depois, nas regiões de Quinara e Bolama.

Desde então, a AMI desenvolveu uma ação ímpar e inigualável em Portugal, não tenho nenhum receio em afirmá-lo. Missões em 82 países, em todos os 5 continentes, África, Ásia, América, Europa e Oceânia.

Fizemo-lo sem olhar a credos, raças e regiões do Planeta, respeitando sempre a nossa Carta de Princípios desde os primórdios da nossa causa: cada ser humano é um Ser Único e Insubstituível merecedor de toda a nossa atenção e do nosso incondicional Amor.

Nesses 82 países, onde desenvolvemos perto de 400 missões e projetos e onde participaram largas centenas de “missionários” (médicos, enfermeiros, logísticos, assistentes sociais, educadores de infância, nutricionistas…), ajudámos a minorar o sofrimento, o isolamento e a angústia de milhões de pessoas, de seres humanos iguais a si e a mim. Nesses 30 anos, as missões humanitárias e de desenvolvimento
foram de tal importância, eficácia, ousadia e impacto, que vincaram de forma indelével e indiscutível,
que a AMI é, de facto, “a presença humanitária portuguesa no Mundo”: as guerras no Golfo Pérsico, os terramotos no Irão, Paquistão, Haiti e Nepal, as chuvas torrenciais e ciclones (no Bangladesh, Honduras, Venezuela, Moçambique), o genocídio no Ruanda, as epidemias de cólera e de dengue na Guiné-Bissau e em Cabo Verde, o tsunami no Sri Lanka … e as utilíssimas missões em cenário de guerra em Angola (nos dois lados da então guerra civil), Bósnia, Kosovo e Iraque. Para já não falar dos projetos na Papua, em São Tomé, no Brasil e em dezenas de outros países com os chamados PIPOL (Projetos Internacionais de
Parcerias com Organizações Locais).

Em 1994, considerámos que a missão deveria continuar e expandir-se para Portugal, onde a nossa missão social se tornou também num marco decisivo na ajuda concreta aos portugueses e aos imigrantes residentes entre nós e que fizeram parte da história da AMI: Centros Porta Amiga espalhados pelo nosso país, Abrigos para os sem-abrigo, Equipas de Rua e … inúmeros outros projetos.

Mercê de um passado e de um presente, onde temos a perfeita noção que poderíamos ter feito muito mais. Mas fizemos o que humanamente nos foi possível graças à paixão e ao espírito de serviço em prol dos outros que nos anima, determina e conduz. Estamos determinados a enfrentar as incertezas e os desafios que o futuro desde já encerra e nos reserva, dando a melhor resposta aos dramas ambientais que se avizinham, e dando o nosso contributo para uma evolução ética e espiritual de que o Mundo tanto necessita para o Bem do nosso futuro coletivo.”

Dr. Fernando Nobre, fundador da AMI